Aos 19 anos, Lei Maria da Penha segue como barreira vital contra a violência doméstica no Brasil

A trajetória da Lei Maria da Penha é inseparável da vida de Maria da Penha Maia Fernandes, biofarmacêutica cearense que sobreviveu a duas tentativas de feminicídio cometidas pelo próprio marido em 1983. Um tiro enquanto dormia deixou-a paraplégica e, meses depois, ele tentou eletrocutá-la no banho. A violência que sofreu era um retrato de milhares de casos invisibilizados no país, muitas vezes tratados como meras “brigas de casal” pela polícia e pela Justiça.

Direito e Leis
Publicado por Bianca Ludymila em 13/08/2025

Pontos Principais:

  • Lei Maria da Penha completa 19 anos como marco no combate à violência doméstica.
  • História inspirada na luta de Maria da Penha Maia Fernandes após sobreviver a duas tentativas de feminicídio.
  • Criação motivada por condenação internacional e mobilização de movimentos feministas.
  • Inclui medidas protetivas, juizados especializados e reconhecimento de diversas formas de violência.
  • Desafios persistem, como desigualdade na aplicação, violência digital e necessidade de mais recursos.

Por quase duas décadas, Maria enfrentou um processo judicial marcado por protelações. O agressor foi condenado duas vezes, mas recursos sucessivos atrasaram a punição. Em 1998, com apoio de organizações como o Centro pela Justiça e o Direito Internacional e o Comitê Latino-Americano e do Caribe para a Defesa dos Direitos da Mulher, seu caso foi levado à Comissão Interamericana de Direitos Humanos da OEA.

Lei Maria da Penha marca 19 anos como marco na luta contra violência doméstica
Lei Maria da Penha marca 19 anos como marco na luta contra violência doméstica

Três anos depois, em 2001, o Brasil foi condenado por negligência e omissão na prevenção da violência contra a mulher, por violar a Convenção de Belém do Pará. A pressão internacional, somada à mobilização de movimentos feministas nacionais, resultou na criação da Lei nº 11.340/2006, sancionada em 7 de agosto daquele ano pelo então presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

A legislação trouxe uma definição abrangente de violência doméstica e familiar, incluindo agressões físicas, psicológicas, sexuais, patrimoniais e morais. Criou juizados especializados e medidas protetivas de urgência, como afastamento do agressor, proibição de contato e suspensão de porte de arma. Também fortaleceu delegacias especializadas e impulsionou canais como o “Ligue 180”.

Segundo o Conselho Nacional de Justiça, mais de 3 milhões de processos relacionados à violência doméstica foram abertos desde 2006. Em 2024, o Fórum Brasileiro de Segurança Pública registrou 1.463 feminicídios, muitos em contexto doméstico, revelando que, apesar dos avanços, a aplicação da lei ainda enfrenta desigualdades regionais e subnotificação.

Uma das inovações foi reconhecer formas sutis de violência, como o abuso psicológico e o controle financeiro, exigindo do Estado ações de prevenção e educação. A lei inspirou políticas como o “Agosto Lilás” e influenciou legislações internacionais, além de ter sido atualizada em 2015 para incluir o feminicídio como qualificadora de homicídio.

Maria da Penha fundou, em 2009, o instituto que leva seu nome, voltado à educação e monitoramento da aplicação da lei. Ela também compartilhou sua experiência no livro “Sobrevivi… Posso Contar”, que se tornou referência no debate sobre violência doméstica. Aos 80 anos, segue palestrando e defendendo os direitos das mulheres.

Apesar de seus avanços, a legislação enfrenta desafios contemporâneos, como o combate à violência digital, o cyberbullying e a proteção de mulheres trans e indígenas. Dados do Instituto DataSenado mostram que uma em cada quatro mulheres sofreu algum tipo de agressão em 2023, com aumento durante o isolamento na pandemia de COVID-19.

O impacto da lei vai além do campo jurídico. Ao inserir a violência doméstica na pauta pública, ela contribuiu para reduzir a tolerância social com agressões e incentivar denúncias. Estimativas do IPEA apontam que a violência contra a mulher representa prejuízos bilionários ao PIB, reforçando a importância de políticas que garantam segurança e autonomia econômica às vítimas.

O fortalecimento das redes de proteção, investimentos contínuos e adaptações às novas formas de violência são apontados por especialistas como caminhos essenciais para que a Lei Maria da Penha siga cumprindo seu papel de escudo contra o terror doméstico que ainda persiste no Brasil.

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