Aos 19 anos, Lei Maria da Penha segue como barreira vital contra a violência doméstica no Brasil
A trajetória da Lei Maria da Penha é inseparável da vida de Maria da Penha Maia Fernandes, biofarmacêutica cearense que sobreviveu a duas tentativas de feminicídio cometidas pelo próprio marido em 1983. Um tiro enquanto dormia deixou-a paraplégica e, meses depois, ele tentou eletrocutá-la no banho. A violência que sofreu era um retrato de milhares de casos invisibilizados no país, muitas vezes tratados como meras “brigas de casal” pela polícia e pela Justiça.
Pontos Principais:
- Lei Maria da Penha completa 19 anos como marco no combate à violência doméstica.
- História inspirada na luta de Maria da Penha Maia Fernandes após sobreviver a duas tentativas de feminicídio.
- Criação motivada por condenação internacional e mobilização de movimentos feministas.
- Inclui medidas protetivas, juizados especializados e reconhecimento de diversas formas de violência.
- Desafios persistem, como desigualdade na aplicação, violência digital e necessidade de mais recursos.
Por quase duas décadas, Maria enfrentou um processo judicial marcado por protelações. O agressor foi condenado duas vezes, mas recursos sucessivos atrasaram a punição. Em 1998, com apoio de organizações como o Centro pela Justiça e o Direito Internacional e o Comitê Latino-Americano e do Caribe para a Defesa dos Direitos da Mulher, seu caso foi levado à Comissão Interamericana de Direitos Humanos da OEA.
Três anos depois, em 2001, o Brasil foi condenado por negligência e omissão na prevenção da violência contra a mulher, por violar a Convenção de Belém do Pará. A pressão internacional, somada à mobilização de movimentos feministas nacionais, resultou na criação da Lei nº 11.340/2006, sancionada em 7 de agosto daquele ano pelo então presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
A legislação trouxe uma definição abrangente de violência doméstica e familiar, incluindo agressões físicas, psicológicas, sexuais, patrimoniais e morais. Criou juizados especializados e medidas protetivas de urgência, como afastamento do agressor, proibição de contato e suspensão de porte de arma. Também fortaleceu delegacias especializadas e impulsionou canais como o “Ligue 180”.
Segundo o Conselho Nacional de Justiça, mais de 3 milhões de processos relacionados à violência doméstica foram abertos desde 2006. Em 2024, o Fórum Brasileiro de Segurança Pública registrou 1.463 feminicídios, muitos em contexto doméstico, revelando que, apesar dos avanços, a aplicação da lei ainda enfrenta desigualdades regionais e subnotificação.
Uma das inovações foi reconhecer formas sutis de violência, como o abuso psicológico e o controle financeiro, exigindo do Estado ações de prevenção e educação. A lei inspirou políticas como o “Agosto Lilás” e influenciou legislações internacionais, além de ter sido atualizada em 2015 para incluir o feminicídio como qualificadora de homicídio.
Maria da Penha fundou, em 2009, o instituto que leva seu nome, voltado à educação e monitoramento da aplicação da lei. Ela também compartilhou sua experiência no livro “Sobrevivi… Posso Contar”, que se tornou referência no debate sobre violência doméstica. Aos 80 anos, segue palestrando e defendendo os direitos das mulheres.
Apesar de seus avanços, a legislação enfrenta desafios contemporâneos, como o combate à violência digital, o cyberbullying e a proteção de mulheres trans e indígenas. Dados do Instituto DataSenado mostram que uma em cada quatro mulheres sofreu algum tipo de agressão em 2023, com aumento durante o isolamento na pandemia de COVID-19.
O impacto da lei vai além do campo jurídico. Ao inserir a violência doméstica na pauta pública, ela contribuiu para reduzir a tolerância social com agressões e incentivar denúncias. Estimativas do IPEA apontam que a violência contra a mulher representa prejuízos bilionários ao PIB, reforçando a importância de políticas que garantam segurança e autonomia econômica às vítimas.
O fortalecimento das redes de proteção, investimentos contínuos e adaptações às novas formas de violência são apontados por especialistas como caminhos essenciais para que a Lei Maria da Penha siga cumprindo seu papel de escudo contra o terror doméstico que ainda persiste no Brasil.
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