Preço da carne pode explodir no Brasil após tarifaço de Trump travar exportações
A carne brasileira entrou na mira da política comercial dos Estados Unidos. A partir de 6 de agosto, as exportações do produto para o mercado norte-americano sofrerão uma sobretaxa de 50%, determinada pelo ex-presidente Donald Trump, em uma nova escalada tarifária que atinge diretamente o agronegócio brasileiro. Ainda que o imposto seja cobrado dos importadores norte-americanos, os reflexos já começaram a ser sentidos do lado de cá da fronteira.
Pontos Principais:
- Trump impôs tarifa de 50% sobre a carne brasileira exportada aos EUA, válida a partir de 6 de agosto.
- Apesar da taxa recair sobre importadores americanos, produtores brasileiros já diminuem o abate.
- Especialistas apontam que o preço da carne pode cair no curto prazo, mas deve subir no médio.
- Exportações para os EUA representam 12% do total; China compra quase metade da carne brasileira.
- Brasil tenta redirecionar exportações para países como o Egito, mas impactos internos são inevitáveis.
Segundo especialistas do setor, como Wagner Yanaguizawa, do Rabobank, a expectativa é que o número de abates caia nos próximos meses. Os produtores já vinham reduzindo o envio de fêmeas para o corte, priorizando a reprodução. Agora, com a possibilidade de queda nas vendas aos EUA, também passam a evitar a engorda de bois destinados à exportação, o que afeta o equilíbrio da cadeia produtiva.
Atualmente, os Estados Unidos respondem por 12% das exportações brasileiras de carne bovina, atrás apenas da China, que compra quase metade do total. Embora sejam autossuficientes em grande parte da sua produção, os americanos ainda dependem da carne brasileira, principalmente das partes dianteiras do boi, utilizadas em hambúrgueres. Uma retração desse mercado força o Brasil a buscar alternativas rapidamente.
A pressão chinesa por preços mais baixos é outro fator que complica a equação. Com o gigante asiático tentando barganhar valores, parte das exportações pode ser temporariamente represada, aumentando a oferta no mercado interno. Isso tende a provocar, num primeiro momento, uma leve redução no preço da carne para o consumidor brasileiro — uma calmaria passageira antes da provável tempestade inflacionária.
No campo, o valor da ração também caiu, diminuindo o custo de produção. O boi gordo, pronto para o abate, apresentou queda de 7,21% no mês de julho, de acordo com o Cepea. Esse movimento, no entanto, não garante alívio duradouro: com menos bois sendo preparados para o abate, a oferta tende a encolher nos próximos trimestres, pressionando os preços.
Cesar de Castro Alves, do Itaú BBA, afirma que o setor já se organiza para redirecionar cargas destinadas aos Estados Unidos. Países como o Egito têm se mostrado interessados na proteína brasileira, mas o redirecionamento exige adaptações logísticas e comerciais que nem sempre são imediatas. Além disso, o Brasil não é o único grande exportador que enfrenta dificuldades: Austrália e os próprios EUA vêm reduzindo a produção por questões sanitárias.
De forma prática, o impacto do tarifaço não será direto no consumidor, mas seus efeitos devem reverberar na ponta da cadeia. Com menor demanda externa e readequação da produção, o Brasil pode ter um curto período de queda nos preços da carne, mas essa baixa tende a ser temporária. Quando o estoque represado for absorvido e o número de abates seguir em queda, o produto deve voltar a subir.
O cenário de incerteza se agrava com a estimativa de perda de até US$ 1 bilhão em exportações de carne bovina para os EUA em 2025. Isso compromete o fluxo financeiro de frigoríficos e criadores, que dependem do mercado internacional para manter a operação em larga escala. Sem essa sustentação, o risco de desorganização do setor aumenta.
A medida de Trump tem caráter político e busca pressionar o Brasil em temas sensíveis, como comércio agrícola e relações diplomáticas. No entanto, o tiro pode ricochetear: se o Brasil não conseguir escoar sua produção, a conta chega ao consumidor em forma de inflação.
Mesmo com 80% da carne consumida internamente, o agronegócio brasileiro é altamente sensível às flutuações externas. O tarifaço impõe mais do que um desafio comercial — ele inaugura um novo ciclo de tensão entre a produção rural e os mercados globais, onde o prato do brasileiro vira peça central de uma disputa geopolítica.
Com informações de g1.
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