Piloto da VOEPASS já havia denunciado condições de trabalho em audiência da ANAC
Em junho deste ano, um piloto da VOEPASS levantou sérias preocupações sobre as condições de trabalho dos funcionários da companhia aérea durante uma audiência na Agência Nacional de Aviação Civil (ANAC). A denúncia, feita de forma contundente, revelou o que o piloto descreveu como uma pressão constante sobre as escalas de trabalho, resultando em jornadas exaustivas e a falta de descanso adequado.
O piloto relatou que a empresa frequentemente solicita que os tripulantes aceitem voos mesmo quando estão em condições de fadiga. Segundo ele, essa prática não só coloca em risco a segurança dos voos, como também afeta diretamente a saúde física e mental dos funcionários. Ele afirmou que, em diversas ocasiões, foi acordado por ligações da escala em seu dia de folga, sendo pressionado a comparecer ao trabalho, o que o levou a desligar o celular para evitar novas chamadas.
A denúncia chamou a atenção da ANAC e levou à abertura de um procedimento pelo Ministério Público do Trabalho (MPT) para investigar as condições de trabalho da tripulação da VOEPASS. Além disso, o Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (CENIPA) também está conduzindo uma análise detalhada sobre as condições físicas e psicológicas dos pilotos, bem como o cumprimento das regulamentações que determinam o tempo de voo e descanso obrigatório.
Durante a audiência, o piloto destacou a diferença entre as normas aplicadas a motoristas de ônibus e caminhões, que têm períodos de descanso bem definidos, e a realidade enfrentada pelos pilotos, que muitas vezes precisam permanecer em serviço por até 12 horas seguidas, sem descanso adequado. Ele questionou diretamente os membros da mesa sobre a sensação de exaustão e os perigos que isso pode representar, enfatizando a gravidade do problema.
O piloto também mencionou que, ao ser chamado para voar durante períodos de sobreaviso, o tempo de espera é contabilizado como hora trabalhada, mas não como hora de voo. Esse detalhe é relevante, pois as regulamentações estabelecem um limite de 100 horas de voo por mês para os pilotos, além de um máximo de 270 horas de voo em três meses consecutivos.
Especialistas no setor de aviação afirmam que o cumprimento dessas regras é essencial não apenas para a segurança dos voos, mas também para a manutenção das apólices de seguro das companhias aéreas. Em casos onde se constata desrespeito às normas, as seguradoras podem se recusar a indenizar vítimas de acidentes, o que torna ainda mais importante a observância rigorosa dessas regulamentações.
A denúncia do piloto, que foi feita em um contexto sindical durante uma reunião reivindicatória, reflete a insatisfação dos profissionais com as condições de trabalho na VOEPASS. Embora a fala tenha sido proferida antes de qualquer incidente específico, ela trouxe à tona questões críticas que agora serão investigadas pelas autoridades competentes.
A VOEPASS, por sua vez, não se pronunciou oficialmente sobre as denúncias até o momento. A expectativa é que a investigação do MPT e do CENIPA esclareça se as práticas mencionadas pelo piloto são generalizadas na empresa ou se representam casos isolados.
À medida que as investigações avançam, cresce a pressão sobre a VOEPASS para que reveja suas políticas de escalas e descanso dos funcionários, de modo a garantir a segurança dos voos e o bem-estar de sua tripulação. O caso também reforça a importância de uma fiscalização rigorosa por parte das autoridades de aviação, para que situações como essas não se repitam.
As denúncias feitas pelo piloto da VOEPASS levantam questões sérias sobre a cultura de trabalho na aviação brasileira, especialmente em empresas de menor porte, onde a pressão para cumprir horários pode ser ainda maior. A comunidade de aviação aguarda com atenção os desdobramentos desse caso, que pode ter implicações significativas para o setor como um todo.