Ex refém do Hamas conta os dias sofridos
Moran Stella Yanai foi sequestrada pelo grupo Hamas em 7 de outubro do ano passado, enquanto participava de um festival de música no sul de Israel. Yanai, uma designer e artista, estava vendendo suas joias feitas à mão no evento quando homens armados invadiram o local. Durante a fuga, ela enviou mensagens de voz desesperadas aos pais, temendo por sua vida.
Após ser capturada por um grupo de milicianos, Yanai conseguiu convencer seus sequestradores de que era árabe, utilizando seu vocabulário limitado no idioma e apontando para um colar com seu nome em caracteres árabes. Eles a liberaram, mas logo em seguida, ela foi capturada novamente por outro grupo e utilizou a mesma estratégia para ser solta. No entanto, ao tentar se esconder, caiu e quebrou o tornozelo, sendo então capturada por um terceiro grupo que não a libertou.
Yanai foi levada para Gaza, onde os terroristas a colocaram em um carro israelense roubado e a levaram para um hospital. No hospital, homens tiraram seus sapatos, esvaziaram seus bolsos e arrancaram suas joias. Um médico que falava hebraico perguntou como ela estava, mas não ofereceu ajuda, apenas sorriu. O médico examinou rapidamente seu tornozelo e colocou uma tala. Durante uma transferência, a tala foi removida e ela foi obrigada a descer escadas com sapatos que causavam dor.
Durante as sete semanas seguintes, Yanai foi transferida entre várias casas, sempre com novos guardas. Ela relatou que temia os homens, mas dependia deles para sobreviver. Ela disse que não foi estuprada, mas ouviu relatos de outras mulheres que sofreram abusos. Seus guardas estavam sempre presentes, inclusive quando ela ia ao banheiro, o que descreveu como uma tortura psicológica implacável e repetitiva. Os terroristas disseram que sua família a havia esquecido e que ela não tinha país para retornar.
No segundo dia em Gaza, uma bomba estilhaçou a janela de seu quarto e os ataques aéreos israelenses se intensificaram. Sem acesso a rádio, televisão ou internet, Yanai não entendia o conflito ao seu redor. As regras impostas pelos terroristas incluíam não implorar, não falar em voz alta, não chorar e não expressar emoções. Em um dos esconderijos, foi forçada a representar uma cena coreografada pelos guardas.
Yanai foi libertada em 29 de novembro do ano passado, durante uma trégua temporária em que o Hamas liberou 105 reféns em troca da libertação de 240 presos palestinos. Ela sofreu vários efeitos colaterais, incluindo uma alergia a piolhos, perda de quase 8 quilos e perda parcial de audição devido a explosões. Ela iniciou fisioterapia intensiva para o tornozelo e foi diagnosticada com síndrome de dor regional complexa, uma condição crônica rara.
O tratamento que recebeu em Gaza complicou sua recuperação, mas Yanai continua a compartilhar sua história. Ela sente a responsabilidade de falar por aqueles que ainda não foram libertados. Seu relato traz à tona a realidade das pessoas que ainda estão em cativeiro e a complexidade do conflito na região.
*Com informações do Washingtonpost.