De acordo com a PF, a conta de Bolsonaro emitiu um certificado de vacinação no ConecteSUS um dia após uma possível fraude
A Polícia Federal divulgou um relatório em que afirma que certificados de vacinação contra Covid-19 foram emitidos a partir da conta do ex-presidente Jair Bolsonaro no aplicativo ConecteSUS. Um dos certificados foi emitido um dia após supostas informações falsas terem sido inseridas no sistema.
Outro certificado também foi emitido a partir da conta da filha mais nova de Bolsonaro em 27 de dezembro de 2022, em inglês, antes de sua viagem aos Estados Unidos. A PF prendeu seis pessoas e cumpriu 16 mandados de busca e apreensão em operação nesta quarta-feira (3), como parte da investigação sobre suspeita de fraude em dados de vacinação de Bolsonaro, sua filha e assessores.
Bolsonaro nega ter participado de fraudes e diz que não foi vacinado contra Covid-19. O relatório da PF aponta que quatro certificados de vacinação foram emitidos a partir do usuário associado a Bolsonaro, sendo que dois deles foram emitidos antes da exclusão das informações supostamente falsas, e os outros dois após a exclusão, com informações sobre uma vacina da Janssen aplicada em 2021.
O acesso à conta de Bolsonaro no ConecteSUS, nas datas de 22 e 27 de dezembro de 2022, foi feito usando conexão do Palácio do Planalto, e no dia 30 de dezembro foi feito pelo celular do tenente-coronel Mauro Cesar Barbosa Cid, que atuava como ajudante de ordens e era considerado braço direito de Bolsonaro.
As evidências apontam que os certificados de vacinação foram emitidos por pessoas próximas a Bolsonaro e que o ex-presidente e seus assessores tinham plena ciência da inserção fraudulenta dos dados de vacinação.
Secretário Municipal de Governo de Duque de Caxias (RJ), João Carlos de Sousa Brecha, foi preso durante uma operação nesta quarta-feira (3), acusado de inserir informações falsas sobre a vacinação de Bolsonaro no Ministério da Saúde. Claudia Helena Acosta Rodrigues Da Silva, servidora do Ministério, responsável por excluir os dados em 27 de dezembro, também foi alvo de mandado de busca e apreensão.
A exclusão das informações ocorreu três dias antes de Bolsonaro viajar para os Estados Unidos em 30 de dezembro de 2022, permanecendo lá até março deste ano. Após a operação desta quarta, o ex-presidente negou novamente ter tomado a vacina contra a Covid-19, alegando não ter adulterado os registros.
A Polícia Federal divulgou ainda, uma representação encaminhada ao ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), em que aponta o ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro, tenente-coronel Mauro Cid, como o principal articulador de um esquema de fraude em cartões de vacinação da Covid-19. A PF também relatou ao STF a atuação de assessores do ex-presidente para fraudar o sistema do Ministério da Saúde.
De acordo com a PF, Bolsonaro sabia da inserção fraudulenta de dados no sistema do Ministério da Saúde e “Jair Bolsonaro, Mauro Cid e, possivelmente, Marcelo Câmara tinham plena ciência da inserção fraudulenta dos dados de vacinação, se quedando inertes em relação a tais fatos até o presente momento”.
A polícia citou como indícios do conhecimento de Bolsonaro o fato de o certificado de vacinação do ex-presidente ter sido emitido nos dias 22 e 27 de dezembro do Palácio do Planalto. Além disso, a PF detalhou minuto a minuto como foram as alterações no sistema e a emissão do cartão de vacinação de Bolsonaro.
Segundo a PF, as informações coletadas mostram como Bolsonaro se uniu ao secretário de Governo de Duque de Caxias, João Brecha, que foi preso, e aos assessores Mauro Cid e Marcelo Câmara para inserir dados falsos de vacinação contra a Covid-19 no sistema. A ação, diz a PF, configura que Bolsonaro tenha cometido o crime de inserção de dados falsos em sistema de informação.
A PF ainda acrescentou que “tais condutas, contextualizadas com os elementos informativos apresentados, indicam que as inserções falsas podem ter sido realizadas com o objetivo de gerar vantagem indevida para o ex-presidente da República, Jair Bolsonaro, relacionada a fatos e situações que necessitem de comprovante de vacinação contra a Covid-19”.