Atacadista de Franco da Rocha aposta no inverno com promoções de vinhos e queijos, mas enfrenta críticas veladas
O inverno chegou às prateleiras do varejo com promessas de aquecer não só os dias frios, mas também o consumo. O atacadista, uma das maiores redes do setor, deu início ao seu “Especial de Inverno” em 20 de junho, oferecendo 10 dias de promoções em produtos típicos da estação. Vinhos, queijos, massas e sopas passaram a estampar encartes e displays em todas as 111 lojas da rede no Estado de São Paulo, com preços que, à primeira vista, parecem convidativos.

Pontos Principais:
- Campanha “Especial de Inverno” do mercado vai até 29 de junho nas 111 lojas de SP.
- Produtos como vinhos, queijos, sopas e fondue têm preços promocionais por quantidade.
- Modelo de descontos escalonados pode não beneficiar quem busca economia real.
- Pequenos comerciantes relatam impactos indiretos da política agressiva de preços.
- App reduzidos e cartão próprio ampliam acesso, mas incentivam parcelamento de alimentos.
O vinho chileno Casillero Del Diablo, um rótulo tradicional no mercado, é vendido a R$ 39,90 cada na compra de duas unidades. Já o queijo tipo Brie Quatá (125g) está sendo oferecido por R$ 12,90. Para completar a mesa, o fondue de chocolate Vigor (250g) aparece a R$ 24,20 na aquisição de três embalagens. São cifras que chamam atenção, principalmente para consumidores que buscam compor uma noite especial com um orçamento limitado.
Mas é justamente nesse ponto que surgem questionamentos mais discretos. A proposta de “preço acessível” pode não soar tão vantajosa quando analisada com atenção. Muitos dos produtos promocionados já são, tradicionalmente, itens de giro lento fora da estação e, portanto, mais propensos a receber cortes sazonais. Além disso, o modelo de preços escalonados — “a partir de duas ou três unidades” — acaba por incentivar compras maiores, o que pode não representar real economia para quem busca apenas uma ou duas opções.
Outro fator que provoca inquietação, especialmente entre pequenos comerciantes, é a forma como redes de grande porte como o este mercado moldam a percepção de valor no mercado. Com margens agressivas e volume de negociação privilegiado junto a fornecedores, os atacadistas conseguem ofertar descontos que, apesar de parecerem vantajosos, podem pressionar negativamente negócios menores que não têm a mesma estrutura para acompanhar tais campanhas.
As ofertas sazonais também reacendem um debate antigo no setor: a real necessidade dessas ações promocionais em períodos de baixa temperatura. Em alguns casos, há quem veja nelas mais uma estratégia de escoamento de estoque do que um real benefício ao consumidor. Sopas em pó e queijos com vencimento próximo, por exemplo, são itens frequentemente incluídos nessas ações — algo que nem sempre é comunicado de forma transparente nas lojas.
Apesar disso, o vendedor fortalece a narrativa da conveniência. A empresa oferece o aplicativo, com cupons e ofertas personalizadas, e aposta no cartão próprio para facilitar o pagamento em até três vezes sem juros em produtos alimentares. O discurso é de que o cliente tem total liberdade para escolher quanto e como consumir. Mas a prática do parcelamento em itens de giro rápido levanta uma reflexão: até que ponto estamos comprando o essencial ou financiando o desejo de viver um inverno mais gourmetizado?
Nos corredores refrigerados das lojas, a ambientação é pensada para despertar uma experiência sensorial. Tabuleiros de queijos, garrafas de vinho bem posicionadas e cartazes com sugestões de harmonização fazem parte do cenário cuidadosamente arquitetado. Mas para além da estética, há um roteiro invisível que sugere consumo elevado como sinônimo de conforto — algo que, em tempos de inflação persistente, pode não condizer com a realidade da maioria dos lares paulistas.
O atacadista, é claro, não está sozinho. O setor supermercadista como um todo tem investido pesado em campanhas temáticas e segmentadas por estação. A diferença está na escala. Enquanto mercadinhos de bairro apostam em cartazes escritos à mão e descontos pontuais, os atacadistas estruturam campanhas de marketing robustas com presença digital, parcerias institucionais e redesenho de vitrines.
Por fim, é inegável que o Especial de Inverno movimenta o mercado. As prateleiras são abastecidas com rapidez, a comunicação é eficiente e os dados de vendas, provavelmente, refletirão um aumento relevante até o fim da campanha. Ainda assim, cabe ao consumidor observar se as vantagens oferecidas são tão quentes quanto parecem ou se fazem parte de uma estratégia fria e calculada — como manda o calendário do comércio moderno.
Por Bianca Ludymila, Jornalista e Editora Chefe (MTB 0081969/SP)
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