Mentira incendiária nas redes: Índia não sai dos BRICS e será próxima presidente do bloco
A suposta saída da Índia do grupo BRICS não passou de uma farsa espalhada pelas redes sociais. Publicações falsas associaram o movimento a negociações comerciais com os Estados Unidos e, em uma reviravolta ainda mais mirabolante, atribuíram a decisão a uma suposta influência de Carlos Bolsonaro sobre a presidente indiana. O boato circulou com força desde 12 de julho de 2025, inflamando bolhas ideológicas e tentando criar uma narrativa de isolamento internacional do Brasil sob o governo Lula.
Pontos Principais:
- Boato nas redes sociais afirma falsamente que a Índia saiu dos BRICS.
- Publicações ligam Carlos Bolsonaro à suposta influência diplomática sobre o país asiático.
- A presidência brasileira do BRICS negou a informação e confirmou participação ativa da Índia.
- Índia será a próxima presidente rotativa do grupo em 2026, conforme calendário oficial.
- A narrativa distorceu manchete real do jornal *O Globo* para criar desinformação política.
O conteúdo desinformativo ganhou impulso com o uso indevido de uma manchete real do jornal O Globo, que tratava de tratativas entre Nova Deli e Washington para reduzir tarifas comerciais. A notícia original era verídica, mas as conclusões tiradas nas redes sociais a partir dela não tinham qualquer lastro na realidade diplomática. Não há, em nenhuma instância oficial ou documento público, qualquer indício de que a Índia tenha considerado sair do bloco fundado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul.
A presidência brasileira dos BRICS foi categórica ao negar a alegação. Em resposta ao jornal Observador, deixou claro que a Índia “continua a participar ativamente em todas as iniciativas do grupo” e, segundo o calendário rotativo já acordado entre os membros, assumirá a presidência do bloco em 2026. Isso reforça não apenas o compromisso indiano com a organização, mas também a estabilidade institucional entre seus integrantes, mesmo em tempos de tensões geopolíticas.
A 17ª cúpula dos BRICS, realizada no início de julho no Rio de Janeiro, teve como pano de fundo a ausência de Vladimir Putin, impedido de viajar por conta do mandado de prisão internacional emitido pelo Tribunal Penal Internacional. Ainda assim, o encontro marcou a entrada de novos membros — como Arábia Saudita e Egito — e fortaleceu a aliança entre economias emergentes frente ao protecionismo norte-americano liderado por Donald Trump.
Foi nesse ambiente que surgiram os posts sensacionalistas, sugerindo que a Índia teria abandonado o “barco furado” que se tornaram os BRICS. Frases como essa foram acompanhadas de montagens gráficas, manchetes recortadas e comentários que tentavam ligar a suposta decisão à atuação de Carlos Bolsonaro. Segundo os boatos, o filho 02 do ex-presidente Jair Bolsonaro teria “feito a cabeça” da liderança indiana para romper com o bloco.
Nenhuma dessas alegações foi confirmada por fontes diplomáticas ou autoridades indianas. Trata-se de um caso clássico de manipulação da opinião pública por meio de recortes parciais de informações verdadeiras — uma tática já bastante conhecida no ecossistema digital de desinformação. O uso de figuras públicas para sustentar boatos é uma estratégia para dar aparência de veracidade a conteúdos que não se sustentam nos fatos.
A participação da Índia no BRICS, inclusive, é estratégica para o país asiático, que tem buscado aumentar sua influência em blocos multilaterais sem abrir mão de acordos bilaterais com outras potências. A aproximação com os EUA, portanto, não representa um rompimento com os BRICS, mas uma ampliação da agenda externa de Nova Deli. Essa postura pragmática é comum entre os membros do grupo, que mantêm relações diversas com o Ocidente sem abandonar a cooperação interna.
O caso ilustra como a polarização política no Brasil tem ultrapassado fronteiras simbólicas, alcançando interpretações distorcidas sobre relações internacionais. A tentativa de envolver Carlos Bolsonaro num suposto lobby diplomático mostra que o embate ideológico, mesmo sem fundamento, ainda rende cliques e curtidas em ambientes digitais pouco comprometidos com a apuração dos fatos.
A checagem feita pelo Observador, em parceria com o Facebook, classificou a informação como “falsa” segundo os critérios de verificação da plataforma. O selo também aparece nas ferramentas de combate à desinformação do próprio Facebook, alertando os usuários de que estão diante de uma alegação sem base factual. Em meio a tantas camadas de ruído, a confirmação oficial — ainda que menos sensacionalista — segue sendo o farol da credibilidade.
O episódio reforça o papel da imprensa responsável, da diplomacia oficial e dos canais de verificação como barreiras essenciais contra a viralização de conteúdos enganosos. Em um cenário global cada vez mais complexo, onde acordos multilaterais coexistem com interesses bilaterais, o rigor da informação é mais do que um requisito: é uma necessidade democrática.
Com informações de observador.
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