VIDEO: Gasolina mais fraca e carros mais vulneráveis: nova mistura preocupa motoristas no Brasil
A gasolina que chega aos postos brasileiros desde o início de agosto não é mais a mesma. Com uma mudança técnica e pouco divulgada, o governo federal elevou de 27% para 30% o teor de etanol anidro na composição do combustível, o que já começa a provocar impactos no consumo e no funcionamento de veículos mais antigos. A decisão, que também aumentou o biodiesel no diesel de 14% para 15%, reacende o debate sobre equilíbrio entre política ambiental e eficiência energética.
Para quem dirige um carro flex fabricado nos últimos vinte anos, a nova fórmula pode passar despercebida. Esses motores foram projetados para operar com diferentes proporções entre etanol e gasolina, mantendo o desempenho mesmo com variações de mistura. Mas os motoristas que ainda dependem de modelos exclusivamente a gasolina — muitos deles ainda presentes em frotas urbanas e rurais — já relatam falhas na ignição e partidas mais difíceis em dias frios, especialmente nas manhãs de inverno.
Pontos Principais:
- Desde 1º de agosto, gasolina brasileira passou a conter 30% de etanol anidro.
- Veículos flex lidam bem com a mudança, mas carros antigos sofrem falhas.
- Maior teor alcoólico pode reduzir rendimento e elevar o consumo de combustível.
- Brasil se distancia de padrões dos EUA (10%) e Europa (até 5%).
- Gasolina premium permanece com 25% de etanol, mas é cara e inacessível.
- Não houve queda imediata no preço da gasolina, como esperava o consumidor.
- Especialistas alertam para risco de falhas em regiões frias e na partida a frio.
- Falta de comunicação do governo gerou surpresa e frustração entre motoristas.
- Decisão técnica sem debate expõe conflito entre sustentabilidade e eficiência.
- Medida impacta diretamente frotas mais antigas e motos a gasolina.
O jornalista e engenheiro automotivo Boris Feldman, conhecido por seu acompanhamento técnico de combustíveis e desempenho veicular, alerta para o risco de redução do rendimento por litro rodado. Segundo ele, o etanol possui um poder energético menor que a gasolina, e aumentar sua proporção pode obrigar o consumidor a abastecer com mais frequência, mesmo que o preço nas bombas permaneça o mesmo. Isso significa que, na prática, o motorista pode pagar mais por rodar menos.
A mudança também afeta motocicletas e veículos antigos que não contam com tecnologias de compensação automática de mistura. Nessas situações, a proporção maior de etanol pode causar instabilidade de combustão, dificuldades de partida e perda de eficiência geral do motor. Em regiões frias, esse efeito se intensifica, já que o etanol exige maior temperatura para inflamar, tornando a primeira partida do dia um verdadeiro desafio.
Embora o governo argumente que a medida tem foco em ampliar o uso de biocombustíveis e reduzir a emissão de gases de efeito estufa, a decisão contrasta com padrões internacionais. Nos Estados Unidos, o teor alcoólico da gasolina permanece em 10%. Na União Europeia, varia de 2,5% a 5%. Para Feldman, o limite técnico dos motores pode até alcançar 30%, mas o ideal para preservar desempenho e estabilidade ficaria entre 10% e 20%.
Outro ponto pouco explorado é que a gasolina premium, ainda com 25% de etanol e maior octanagem, permanece inalterada. Contudo, seu valor pode ser até 50% maior que o da gasolina comum, o que a torna uma alternativa distante da realidade da maioria da população. Sem opções intermediárias no mercado nacional, o consumidor é forçado a aceitar uma gasolina mais diluída e menos eficiente.
A promessa inicial de que a maior adição de etanol reduziria o preço final da gasolina não se concretizou nas primeiras semanas após a mudança. E mesmo que essa redução venha a ocorrer com o tempo, analistas questionam se ela será suficiente para compensar o aumento no consumo — criando uma situação em que a economia anunciada vira gasto ampliado.
A ausência de uma campanha pública de informação sobre a nova composição contribuiu para o estranhamento generalizado. Muitos motoristas não foram alertados, nem pelas autoridades nem pelas distribuidoras, sobre a mudança. Resultado: quem dirige notou primeiro os efeitos no bolso e no motor antes mesmo de entender o que havia mudado.
O Brasil tem uma das gasolinas com maior proporção de etanol do mundo, uma característica construída ao longo das últimas décadas em nome da sustentabilidade. No entanto, para uma parcela significativa da população — justamente a que roda com veículos mais simples ou antigos — a medida soa como um retrocesso. A combinação entre combustível menos eficiente, ausência de alternativas e falta de transparência gera um cenário incômodo para o consumidor médio.
Em meio às promessas de avanços sustentáveis, o que se vê é um país com gasolina “mais verde” no papel, mas menos eficiente no tanque. O motorista comum, que já lida com altos custos de manutenção e um mercado de combustíveis instável, agora precisa enfrentar mais um obstáculo — silencioso, técnico e, até o momento, pouco discutido.
Fonte: Metropoles e CNN.
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