Assentos desconfortáveis em nome de tarifas mais baratas: essa é a promessa sensacionalista que voltou a circular nas redes sociais brasileiras na segunda semana de junho de 2025. De acordo com publicações em grupos de WhatsApp e Telegram, companhias aéreas estariam prestes a lançar uma nova categoria de passagens com assentos verticais — ou seja, passageiros voando praticamente de pé.
Empresas desmentem rumores sobre voo em pé com assento Skyrider 2.0
O boato ganhou novo fôlego após matéria publicada em maio de 2025 pelo tabloide britânico Daily Mail, que afirmou que o lançamento ocorreria em 2026. O texto, no entanto, omite o contexto histórico do projeto, além de não apresentar fontes técnicas que atestem a veracidade da informação. O E-farsas, site brasileiro de checagem de fatos, investigou o caso e encontrou publicações de 2010 na CNN explicando que o Skyrider era apenas um modelo conceitual.
No auge da repercussão, a empresa responsável pela criação do Skyrider usou sua conta no Instagram para esclarecer o mal-entendido. Em nota, destacou que o projeto, originalmente desenhado em 2012, “nunca foi pensado para ser levado ao pé da letra”. Segundo a postagem, o modelo buscava propor discussões sobre inovação no setor, maximizando espaço e ergonomia, mas sem qualquer pretensão de se tornar um produto comercial.
A poltrona, que de fato possui estrutura vertical e pouco acolchoamento, foi concebida como um experimento visual e funcional sobre o futuro da aviação de baixo custo. Entretanto, o projeto não passou nos critérios técnicos exigidos por agências reguladoras e tampouco foi incorporado a planos oficiais das companhias aéreas.
Com aparência curiosa e promessas de preços baixos, o Skyrider 2.0 se tornou um prato cheio para desinformação. A ausência de dados verificáveis nas postagens virais, somada ao apelo emocional de uma suposta “nova injustiça contra passageiros”, alimentou a narrativa. Assim como ocorre com outros conteúdos falsos, a mensagem circulou com força em grupos fechados e redes sociais, onde a checagem é mais difícil.
A experiência prática e o conhecimento técnico revelam que, além da complexidade de homologações aeronáuticas, existem questões básicas de segurança e conforto envolvidas. Um voo em pé, mesmo por poucas horas, confronta diretrizes essenciais da aviação civil, como estabilidade em turbulência, evacuação de emergência e acessibilidade.
A equipe do E-farsas reforça que não há qualquer registro em sites oficiais da aviação civil sobre testes ou autorizações para uso dos Skyrider 2.0. A falsa ideia de que passageiros voariam como gado apertado nos corredores do avião, embora cause indignação, é infundada e representa mais uma das farsas que ganham vida no ambiente digital com um toque de edição e sensacionalismo.
Além da checagem específica sobre o Skyrider, o caso se soma a uma série de boatos desmentidos por especialistas, incluindo capas de invisibilidade na China, embalagens de leite supostamente reaproveitadas e até alegações de que Mickey Mouse furava queijos com o pênis em desenhos antigos. Esses conteúdos, embora aparentemente inofensivos, contribuem para um cenário de desinformação crônica.
Neste contexto, reforça-se a importância de conferir as fontes, desconfiar de manchetes bombásticas e valorizar iniciativas de verificação. No universo aéreo, onde a regulamentação é rígida e o conforto mínimo ainda é uma exigência legal, a proposta de voar em pé continua sendo apenas um experimento visual de mais de uma década atrás, que voltou a circular pelas razões erradas.
Com informações de e-farsas.