“A democratização do acesso à informação abriu caminho para a manipulação e o engodo”, afirmou Hanna Arendt, que lança luz sobre os danos provocados pelas notícias falsas na política do Brasil e do mundo.
José Eduardo Campos, professor da Faculdade de Direito da USP, argumenta em seu artigo “Fake News e liberdade de expressão” que, há mais de duas décadas, a chegada da era digital e das plataformas de comunicação prometia aprofundar a democracia. A ideia era que quanto mais informações os cidadãos tivessem acesso e pudessem expressar suas opiniões, menos vozes marginalizadas existiriam. Entretanto, essa democratização do acesso à informação acabou abrindo espaço para o paradoxo da desinformação, manipulação e engano, tanto devido aos abusos em nome da liberdade de expressão quanto às características dos novos espaços públicos digitais.
Olhando para o passado, o autor recorda um momento em 1984 quando prestou assessoria de comunicação para o presidente do PMDB, Ulysses Guimarães. Naquela época, a televisão era vista como uma ferramenta indispensável para a política, mas os políticos ainda não haviam aprendido a utilizá-la eficazmente.
Ele também relembra a Campanha das Diretas de 1982 e as eleições subsequentes, onde programas de propaganda eleitoral no rádio e na TV ganharam importância, abrindo espaço para críticas à ditadura militar. Posteriormente, as regras eleitorais se tornaram mais restritivas, limitando o espaço para debates e discussões.
A comunicação política e eleitoral evoluiu consideravelmente desde então, especialmente com o surgimento das mídias sociais. O autor destaca como a campanha de Barack Obama em 2009 utilizou eficazmente as redes sociais para engajar jovens eleitores. No entanto, essa mesma tecnologia foi usada de forma controversa por Donald Trump, inclusive durante seu governo.
O texto também menciona a criação de uma “fábrica de fake news” na Macedônia, que desempenhou um papel importante nas eleições dos EUA em 2016. O uso indevido das mídias sociais para manipular a opinião pública é um fenômeno global que prejudica a confiança política e ameaça as instituições democráticas.
A internet transformou a política, desde o ato de votar até a organização de protestos e revoluções. Os Estados agora enfrentam desafios mais turbulentos e sociedades mais difíceis de governar. É crucial entender e abordar os perigos das fake news para proteger a integridade da política e da democracia.
Neste cenário, é essencial que governos, instituições e indivíduos estejam atentos e desenvolvam estratégias para combater a disseminação de notícias falsas e promover uma esfera pública saudável e informada.
* Com base no artigo do Jornal da Usp: A democratização do acesso à informação abriu caminho para a manipulação e o engodo