“Discrimina pessoas trans” afirma juíza sobre política de passaportes dos EUA

O governo dos Estados Unidos voltou ao centro de um debate jurídico que envolve o reconhecimento de identidades de gênero em documentos oficiais. Um decreto presidencial assinado por Donald Trump, em seu novo mandato iniciado em janeiro de 2025, determinou que o país reconheça apenas dois sexos: masculino e feminino, com base no sexo biológico do nascimento. A medida tem impacto direto na emissão de passaportes, afetando pessoas transgênero e não binárias.

Política
Publicado por Bianca Ludymila em 22/04/2025

A nova diretriz do Departamento de Estado passou a exigir que os documentos indiquem exclusivamente o sexo biológico ao nascer, desconsiderando a possibilidade de autoidentificação ou de um marcador neutro, como “X”. Essa mudança reverte diretrizes anteriores adotadas durante o governo de Joe Biden, que permitiam a escolha do marcador de gênero nos passaportes, inclusive com a opção não binária.

A Justiça entendeu que a política de Trump é baseada em preconceito contra pessoas trans, contrariando a proteção igualitária garantida pela Constituição americana.
A Justiça entendeu que a política de Trump é baseada em preconceito contra pessoas trans, contrariando a proteção igualitária garantida pela Constituição americana.

A decisão foi contestada na Justiça por um grupo de sete pessoas trans e não binárias. Seis delas obtiveram liminar favorável da juíza Julia Kobick, da Corte Distrital de Boston, que suspendeu os efeitos da política em seus casos individuais. A magistrada avaliou que a diretriz tem caráter discriminatório e infringe o princípio da proteção igualitária previsto na Constituição dos Estados Unidos.

Liminar restringe aplicação da política de Trump

A liminar concedida por Kobick tem efeitos limitados, beneficiando apenas os seis demandantes do processo. Ela se recusou a estender a decisão para todos os cidadãos americanos, alegando que os autores da ação não apresentaram justificativas suficientes para uma medida de alcance nacional. No entanto, a juíza deixou claro que vê fundamentos constitucionais para questionar a política de maneira mais ampla.

Em sua decisão, Kobick destacou que tanto o decreto presidencial quanto a política de passaportes do Departamento de Estado se baseiam em uma postura hostil contra pessoas transgênero, o que, segundo ela, configura violação da Quinta Emenda da Constituição, que trata da igualdade de proteção legal. Para a juíza, o governo não apresentou justificativas racionais para restringir a identidade de gênero nos documentos oficiais.

O Departamento de Estado norte-americano não comentou a decisão até o momento. A União Americana pelas Liberdades Civis, que representa os autores do processo, também não emitiu nota pública sobre a liminar. O caso se soma a uma série de outras ações judiciais movidas em diferentes estados contra a ordem executiva assinada por Trump.

Ordem Executiva muda política com base em sexo biológico

A nova diretriz imposta por Trump foi formalizada na Ordem Executiva 14168, que estabelece como política oficial do governo o reconhecimento de apenas dois sexos biologicamente definidos e imutáveis desde o nascimento. Com isso, o Departamento de Estado foi instruído a alterar suas práticas, proibindo que cidadãos escolham livremente o marcador de gênero em seus passaportes.

Desde sua promulgação, a medida gerou críticas de organizações de direitos civis e de representantes políticos. O governo anterior, de Joe Biden, havia permitido a autodeclaração de gênero e a escolha do marcador “X”, considerado neutro. A mudança representou um recuo em relação a mais de três décadas de práticas administrativas que favoreciam a atualização da identidade de gênero em documentos.

A juíza Kobick mencionou esse histórico ao apontar que a política atual rompe com uma evolução contínua em direção à inclusão. Em sua avaliação, a imposição do sexo biológico como critério exclusivo para documentos compromete o princípio de não discriminação e pode abrir precedentes para a exclusão de outras garantias civis.

Deputada Erika Hilton é afetada por nova política

A nova política dos EUA repercutiu diretamente no Brasil. A deputada federal Erika Hilton (PSOL-SP) relatou ter sido identificada como homem ao solicitar um visto diplomático no consulado americano em Brasília. Segundo a parlamentar, o documento desconsiderou sua certidão de nascimento retificada e o passaporte brasileiro, ambos com seu gênero feminino.

A congressista informou ter acionado o Ministério das Relações Exteriores para questionar formalmente o ocorrido e pretende apresentar uma ação internacional contra os Estados Unidos. Erika Hilton declarou que considera o episódio um reflexo direto da política federal adotada por Trump, que classificou como transfóbica.

O caso ganhou destaque e reabriu o debate sobre a diplomacia de gênero nas relações exteriores. A Embaixada dos Estados Unidos no Brasil divulgou nota afirmando que a política atual segue rigorosamente a Ordem Executiva vigente, que reconhece apenas os sexos masculino e feminino, definidos no nascimento e considerados imutáveis para fins legais.

Consequências e desdobramentos jurídicos

A liminar de Julia Kobick pode abrir espaço para questionamentos semelhantes em outras jurisdições dos EUA. Como a medida ainda não foi derrubada em âmbito nacional, permanece válida para a maior parte da população. No entanto, o reconhecimento de sua provável inconstitucionalidade pode impulsionar novas ações e decisões judiciais em cadeia.

Além disso, o episódio gera implicações diplomáticas e pode afetar a imagem internacional dos Estados Unidos em temas relacionados aos direitos humanos. Organizações como a ACLU e grupos internacionais de proteção às pessoas LGBTQIA+ acompanham os desdobramentos e articulam estratégias jurídicas e políticas para pressionar o governo americano.

A questão também será observada com atenção durante as eleições presidenciais de 2028. O impacto de decisões judiciais como essa, aliadas à repercussão internacional de casos como o de Erika Hilton, pode influenciar a formulação de políticas públicas futuras e o posicionamento de partidos e candidatos em relação à pauta de gênero.

Fonte: Oantagonista e CNN.

Leia mais em Política

Eduardo Bolsonaro xinga Jair Bolsonaro em mensagens expostas pela PF após ser chamado de imaturo
Política
Mensagens incluídas em relatório da PF mostram Eduardo Bolsonaro xingando o pai após críticas públicas de imaturidade. O deputado exigiu responsabilidade, usou palavrões e,...
Influencers, ostentação e o “Tigrinho”: polícia investiga esquema de R$ 4,5 bi com jogos ilegais
Política
Carros de luxo, mansões, viagens internacionais e seguidores por milhões. Enquanto prometiam ganhos fáceis em jogos online, influenciadores acumulavam fortuna em silêncio. A...
Macumba de Alcione “funciona” e vira símbolo cultural após prisão de Bolsonaro e crise com Trump
Política
No sábado, Alcione brincou ao vivo que faria uma “macumbinha” para Donald Trump deixar o Brasil em paz. Dois dias depois, Jair Bolsonaro teve prisão domiciliar decretada por...
Preso em casa e cercado por aliados revoltados, Bolsonaro vira pivô de caos no Congresso
Política
Com protestos, faixas na boca e promessa de obstrução total, a oposição bolsonarista reagiu à prisão domiciliar do ex-presidente Jair Bolsonaro. Flávio Bolsonaro lançou o...
Crise Brasil-EUA se agrava com tarifas e silêncio internacional
Política
Enquanto o mundo observa em silêncio, Trump impõe tarifas ao Brasil em resposta à prisão de Bolsonaro e cria a pior crise diplomática da história entre os dois países. A...
Prisão Domiciliar para Bolsonaro: Moraes manda ex-presidente para prisão com tornozeleira e isolamento
Política
Ignorando as ordens do Supremo, Jair Bolsonaro manteve sua presença digital ao acionar perfis dos filhos e aliados para difundir ataques ao STF e apelos por intervenção...

Últimas novidades

Saque Aniversário do FGTS terá limite de R$ 2,5 mil por operação
Notícias
Com a nova regra, o Saque Aniversário do FGTS deixa de ser uma linha de crédito livre e passa a ter um limite de R$ 2,5 mil por operação e apenas uma por ano. A medida entra...
Setembro será de cultura e diversão: Trupe Trupé leva espetáculos e oficinas gratuitas para crianças em Franco da Rocha, Caieiras e Mairiporã
Mairiporã
Antes mesmo da chegada da primavera, setembro já promete florescer com cultura, música e brincadeiras para as famílias de Franco da Rocha, Caieiras e Mairiporã. De 19 a 28, a...
Temporais atingem Caieiras e região do Cimbaju com destelhamentos e quedas de árvores
Caieiras
No coração da região do Cimbaju, moradores enfrentaram horas de tensão com os temporais que varreram o estado de São Paulo. Em Caieiras, Franco da Rocha, Francisco Morato e...
Segunda-feira de futebol: onde assistir Chapecoense, Palmeiras, Flamengo e mais jogos ao vivo
Esportes
A segunda-feira começa com duelos na Espanha e termina no Brasil com jogos da Série B. Chapecoense enfrenta Vila Nova às 19h, enquanto Ferroviária e Cuiabá jogam às 21h30. O...
Levar malas no banco traseiro do carro pode custar multa de R$ 195,23 e 5 pontos na CNH
Direito e Leis
Viagens lotadas muitas vezes fazem motoristas improvisarem espaço, mas a lei de trânsito não é tão flexível. O Código de Trânsito Brasileiro restringe o transporte de...
Terra Nostra retorna em Edição Especial na próxima segunda (1) e marca volta de Ana Paula Arósio à Globo
Entretenimento
Num movimento que mistura nostalgia e curiosidade, a Globo resgata “Terra Nostra” para a faixa vespertina Edição Especial a partir de 1º de setembro, devolvendo à cena uma...

Jornal Fala Regional

Nosso objetivo é levar conteúdo de forma clara, sem amarras e de forma independente a todos. Atendemos pelo jornal impresso as cidades de Caieiras, Franco da Rocha, Francisco Morato, Mairiporã e Cajamar, toda sexta-feira nas bancas. Pela internet o acesso é gratuito e disponível a todos a qualquer momento, do mundo inteiro.

Vamos Bater um Papo?