A Casa da Colina
Com Shirley Danziger – Advogada, Cabeleireira e uma Maestrina na Arte da Fantasia, Suspense e Contos.
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Sobre a autora:
Nascida em São Paulo e criada por sua avó, Dona Benícia, traz consigo a tradição da escrita e poesia. Apesar de sua vida multifacetada como mãe, advogada e empreendedora, sua paixão pela escrita a conduziu para o universo da literatura. Com uma saga que cresce a cada página, como “O Senhor do Tempo“, Shirley cativa leitores e nos convida a explorar um mundo mágico e real ao mesmo tempo.
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Sinopse
É ligeiramente poético.
É gentil.
Ainda no universo da fantasia, ou talvez com uma inclinação um tanto maior para uma mensagem subliminar, a autora nos traz através de “A Casa da Colina” o quanto pode ser perigoso se deixar levar pelo que se acha belo.
“A Casa da Colina” nos relata o quanto de dor pode haver no belo, na curiosidade em desvendar o que não precisaria sequer ser notado. Mas não somente isto, o conto diz também o quanto pode ser libertador seguir por um novo caminho.
Leia “A Casa da Colina” e descubra você mesmo.
Conto: A Casa da Colina
Autora da saga: O Senhor do Tempo
Milly saiu em desespero, tropeçou nos próprios pés assim que a porta se abriu.
Enfim, desvendou o mistério por trás da Casa da Colina.
Correu o mais que pôde, a pobre, tentando ao mesmo tempo ligar para chamar por uma voz amiga; precisava sentir-se em si mesma, ter a certeza de que ainda falava e que por alguém era ouvida.
Alguém vivo, afinal, alguém de verdade.
As vozes ecoavam pelas janelas e frestas da casa que era bela, mas só de aparência mesmo. Toda dor, desespero, lamento e desamparo bramavam, chamando-a pelo nome.
As vozes ecoavam dentro de si, sob a pele, na mente e também na alma; corria o mais que suas forças podiam suportar, tomou o máximo de distância que pôde, apesar de as vozes não terem se distanciado sequer por um instante.
Coragem lhe faltava para olhar para trás; na verdade, usou toda que lhe tinha sobrado para correr uma corrida desatada rumo à vida de volta.
Estava desaparecida por anos. Será que fizera falta a alguém?
Resolveu desacelerar seus passos; a distância tomada já era um tanto segura, apesar de ainda não ouvir o silêncio das vozes.
As mãos sobre os dois joelhos eram para tomar um pouco de fôlego.
Enfim, respirou e, mesmo em meio ao ecoar das vozes de dor, respirou.
Aproveitou para estufar o peito, carregar o ar de seus pulmões; aproveitou para se suprir de coragem, a mesma que encontrou, sabe-se lá onde, para de vez abandonar a morbidamente bela Casa da Colina. Tomou uma coragem ainda maior para desligar o telefone bem na cara de quem primeiro lhe atendeu.
Parou, mas não recuou; só desacelerou mesmo, notou naquela hora qual foi o real motivo que a fizera despertar para a fuga de descobrir o que havia no interior da Casa da Colina.
Descobrira, afinal, tinha em si todas as respostas, das mais doces às mais amargas.
Então decidiu exatamente naquela hora que voltar de onde veio não lhe traria nada de bom, afinal, pois já sabia o que tinha do outro lado.
Desligou o telefone, ajeitou os cabelos, endireitou a postura; notou naquela hora que um dos saltos se havia quebrado, usou a força, então, toda a força de uma jovem mulher, e quebrou o outro salto; mas uma olhadela repentina em seu reflexo no vidro de um carro abandonado não a fez gostar do que viu, retirou os sapatos, então, sentiu-se bela assim, descalça, talvez porque o que precisava mesmo era de pés no chão.
Ao guardar o celular na bolsa em pleno desuso, viu ali bem no fundo um batom, dois na verdade, um nude e um vermelho. Escolheu o vermelho e, ainda em frente ao carro abandonado, mas que ainda tinha um retrovisor, pintou os lábios. Era um vermelho cor de sangue; lembrou-se de que sangrou de onde veio e para onde pretendia ir.
Pensou também no quanto aquele retrovisor lhe fora útil; fizera-lhe enxergar o quanto de beleza ainda tinha escondida ali, debaixo das rugas de dor, mas ainda lhe restava alguma beleza, alguma lucidez, a mesma que usou para dar as costas à dor, às vozes, à monstruosamente bela Casa da Colina.
Firmou o brilho do batom vermelho nos lábios ao ver-se refletida no vidro sujo do carro abandonado.
E, apesar de ainda ecoarem as vozes, seguiu outro rumo; nem para trás, de onde havia vindo a pouco “A Casa da Colina”, para onde sua tórrida curiosidade a absorveu por anos, nem para sua direita, que era de onde já havia vindo. Mas seguiu rumo à frente e só escolheu essa opção por ver o brilho de uma única estrela que brilhava naquela fria madrugada; seguiu em direção a ela.
Bendita estrela que brilhava bem naquele dia já noite, fazendo guiar Milly por um caminho novo, pois já vinha de longos dias e noites e sequer soube por onde de verdade andou.
Bendita estrela.
Espero que as correções tenham sido úteis!