Ex-ajudante de ordens de Bolsonaro afirma que não participava de atividades administrativas do governo
O tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens do presidente Jair Bolsonaro, declarou hoje que, apesar de sua proximidade com o ex-mandatário, não estava envolvido nas atividades relacionadas à administração pública e não questionava Bolsonaro sobre assuntos discutidos em reuniões com autoridades dos poderes Executivo, Judiciário e Legislativo.
Durante seu depoimento à Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) que investiga os ataques ocorridos em 8 de janeiro, quando vândalos invadiram e depredaram o Palácio do Planalto, o Congresso Nacional e a sede do Supremo Tribunal Federal (STF), Cid explicou que sua função como ajudante de ordens se resumia a um serviço de secretariado executivo para o ex-presidente.
“Na prática, a função do ajudante de ordem consistia, basicamente, em um serviço de secretariado executivo do ex-presidente”, explicou Cid no início de seu depoimento à Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) que investiga os ataques golpistas do dia 8 de janeiro, quando vândalos invadiram e depredaram o Palácio do Planalto, o Congresso Nacional e a sede do Supremo Tribunal Federal (STF).
Cid, que assumiu o cargo de chefe da Ajudância de Ordem da Presidência da República em 2019 por indicação do Comando do Exército, ressaltou que sua nomeação não teve interferência política. Ao longo de seus 27 anos de serviço militar, ele destacou ter desempenhado várias tarefas durante os quatro anos em que serviu a Bolsonaro.
“No dia a dia das reuniões e agendas do ex-presidente, recepcionávamos os participantes e os direcionávamos ao local desejado, ficando do lado de fora das salas de reunião, sempre à disposição. Não questionávamos o que era tratado nas respectivas agendas e reuniões”, disse o militar.
Atualmente detido desde 3 de maio, Cid enfrenta acusações de fraude em cartões de vacinação contra a covid-19, incluindo o do próprio Bolsonaro e de parentes do ex-presidente. Ele também é apontado como um dos articuladores de uma conspiração para reverter o resultado das eleições do ano passado, incluindo planos de intervenção no Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Segundo investigações da Polícia Federal, mensagens obtidas por meio de autorização judicial após a apreensão do celular de Cid indicam que ele reuniu documentos para embasar juridicamente uma tentativa de golpe de Estado.
Peritos da Polícia Federal encontraram mensagens trocadas por Cid com outros militares em seu celular, que, segundo deputados e senadores membros da CPMI do 8 de Janeiro, fortalecem a suspeita de uma conspiração golpista.
Um relatório de investigação da Polícia Federal registra que as mensagens revelam Cid reunindo documentos para fundamentar juridicamente a execução de um golpe de Estado. Entre os documentos compartilhados, estaria um com instruções para declarar estado de sítio diante de “decisões inconstitucionais do STF”.
Por determinação da ministra Cármen Lúcia, do Supremo Tribunal Federal, em resposta a um pedido de habeas corpus apresentado pela defesa do investigado, Cid foi obrigado a comparecer à comissão, mas tem o direito de permanecer em silêncio diante de perguntas que possam incriminá-lo. No início de seu depoimento, ele afirmou que exerceria esse direito.
“Até onde tenho conhecimento, sou investigado pelo Poder Judiciário, especialmente pelo STF, em ao menos oito ações criminais. Entre elas, a suposta falsificação de cartões de vacina; a suposta participação e incitação dos atos de 8 de janeiro e a suposta fraude na [tentativa de] retirada de presentes recebidos pelo ex-presidente. Por este motivo, não poderei esclarecer diversos outros questionamentos que poderiam ser feitos para além do contexto fático [relacionado aos atos golpistas de 8 de janeiro] e, por orientação da minha defesa e com base na ordem do habeas corpus concedida pelo STF, farei uso do meu direito constitucional ao silêncio”, explicou o tenente-coronel.
*Com informações da Agência Brasil e Fusne.