Médico nazista trabalhou em Caieiras: Mengele viveu impune e comandou setor na Melhoramentos
Josef Mengele, nome eternamente associado ao terror nazista, viveu por quase duas décadas no Brasil sem nunca ter prestado contas à Justiça. Médico da SS e responsável por experiências médicas brutais em Auschwitz, ele se refugiou no interior de São Paulo, onde atuou como funcionário da empresa Melhoramentos, na cidade de Caieiras. Entre 1960 e 1970, exercia o cargo de chefe de manutenção, posição que lhe garantia estabilidade e uma aparência de normalidade. Ao mesmo tempo, escondia uma das biografias mais monstruosas do século XX.

Pontos Principais:
- Josef Mengele, médico nazista de Auschwitz, viveu escondido por anos no Brasil.
- Trabalhou por cinco anos na fábrica Melhoramentos, em Caieiras, como chefe de manutenção.
- Escreveu carta frustrada após ser demitido, culpando um rival japonês pela perda de promoção.
- Passou também por Diadema e Bertioga, onde morreu afogado em 1979 sem jamais ser julgado.
- Seu túmulo só foi identificado em 1985, revelando como viveu impune até o fim.
Conhecido como “Anjo da Morte”, Mengele usava jaleco branco para decidir, com um simples gesto de mão, quais prisioneiros seriam enviados às câmaras de gás e quais seriam mantidos vivos para servir como cobaias em experimentos pseudocientíficos. Obcecado por eugenia, conduzia cirurgias sem anestesia, injetava substâncias nos olhos de gêmeos e promovia torturas em nome da “ciência”. Sobreviveu à derrocada nazista com o apoio de redes clandestinas e fugiu para a América do Sul, onde passou por Argentina e Paraguai até chegar ao Brasil.
Em território brasileiro, adotou o nome falso “Wolfgang Gerhard” e estabeleceu relações com famílias que simpatizavam com ex-nazistas. A proximidade com a família Stammer o levou a viver em uma fazenda em Caieiras. Foi nesse período que conseguiu emprego na Melhoramentos, tradicional fábrica de papel da região, e lá permaneceu por cinco anos. No cargo, demonstrava ambições de crescer hierarquicamente, reveladas em cartas trocadas com antigos aliados alemães.
Em uma correspondência enviada em 22 de novembro de 1972, Mengele relata com frustração sua demissão da empresa, que atribuía à reestruturação interna promovida após parceria com uma companhia alemã. Ele acreditava que sua fluência em alemão o tornava um ativo valioso e que estava prestes a ser promovido a gerente técnico. No entanto, o cargo foi ocupado por um colega de origem japonesa, identificado como Fabio, que ele enxergava como ameaça e possível articulador de sua saída.
A carta enviada ao cúmplice Wolfgang Gerhard revela o perfil arrogante e ressentido de Mengele. Ele se dizia “o novo talento promissor” da empresa e insinuava que seu desempenho havia despertado inveja. Escreveu que sua demissão foi uma retaliação disfarçada, causada pela ascensão de um rival que desejava proteger seu próprio espaço. O tom revela a confiança de um homem que, mesmo com histórico de atrocidades, se via injustiçado por perder uma posição corporativa.
Após deixar Caieiras, Mengele passou por Diadema e Bertioga. Estabeleceu-se em um bangalô à beira-mar, onde passou seus últimos anos. Em 1977, recebeu a visita do filho Rolf, que o encontrou debilitado pela hipertensão e por sequelas de um derrame. Mesmo doente, o “Anjo da Morte” não demonstrava arrependimento. Continuava defendendo suas ações no campo de concentração como parte de uma suposta missão científica, negando qualquer culpa ou remorso.
Em 1979, Josef Mengele morreu afogado enquanto nadava no litoral paulista. Seu corpo foi enterrado sob nome falso em Embu das Artes. O paradeiro só foi confirmado seis anos depois, em 1985, após investigações e exames forenses. Nesse período, o mundo já havia perdido a chance de julgá-lo formalmente. A revelação de sua presença em cidades paulistas expôs as falhas globais na responsabilização de criminosos nazistas e escancarou as redes de proteção existentes no pós-guerra.
A convivência de Mengele com brasileiros, seu envolvimento com empresas locais e sua permanência impune por quase vinte anos no país seguem sendo um dos episódios mais perturbadores do pós-Holocausto. Sua trajetória revela não apenas a frieza de um homem que se escondeu entre pessoas comuns, mas também os mecanismos que permitiram que ele escapasse da Justiça internacional. A fábrica em Caieiras, hoje símbolo de desenvolvimento industrial da região, já abrigou em seus quadros um dos nomes mais sombrios da história moderna.
A história de Mengele no Brasil ganha ainda mais contornos macabros quando associada ao fato de ele ter mantido sua postura arrogante até o fim. Suas cartas, declarações e comportamento indicam que ele jamais se arrependeu. Ao contrário, sentia-se injustiçado por não ter subido de cargo e frustrado por ver sua trajetória interrompida por “intrigas internas”. Tudo isso, enquanto milhares de famílias judias, ciganas e outras vítimas seguiam em luto pelas vidas ceifadas em Auschwitz.
A permanência do “Anjo da Morte” em São Paulo, suas disputas por status profissional em uma fábrica brasileira e sua morte tranquila em uma praia do litoral paulista compõem um retrato de impunidade que desafia a memória do Holocausto. Embora morto, seu nome permanece vivo como símbolo do horror, da desumanização e do fracasso da Justiça diante de crimes contra a humanidade.
Leia mais em Curiosidades
Últimas novidades







