A história do café: como um pastor de cabras etíope descobriu essa delícia popular no Brasil
A lenda diz que o café foi descoberto por um pastor de cabras etíope no século IX. Ele percebeu que suas cabras ficavam mais enérgicas após comer algumas frutas vermelhas. Curioso, o pastor experimentou as frutas e sentiu um aumento de energia. Ele então levou essas frutas a um homem santo, que as transformou na primeira bebida de café do mundo. Este foi o começo da longa jornada do café.
O café ganhou popularidade na Península Arábica e no Império Otomano. Inicialmente, os grãos eram consumidos como petiscos energéticos, misturados com gordura. Mais tarde, a bebida foi preparada de forma semelhante ao vinho. A palavra “café” tem origem no termo “qahwah”, que em iemenita significa vinho. A popularidade do café continuou a crescer e se espalhou por essas regiões.
No início do século XVII, os mercadores venezianos trouxeram os grãos de café de Istambul para a Europa. Em 1615, os caroços de café chegaram ao continente europeu, onde rapidamente conquistaram popularidade. Trinta anos depois, surgiram as primeiras casas de café na Itália, e em pouco tempo, se espalharam por toda a Europa.
Hoje, o café é uma das commodities agrícolas mais comercializadas no mundo. Aproximadamente 25 milhões de agricultores em mais de 50 países estão envolvidos no cultivo e processamento do café. Em média, uma pessoa bebe cerca de 1,6 xícara de café por dia. A Finlândia se destaca com o maior consumo per capita de café, com 12 kg por ano, o que equivale a 3,4 xícaras por dia.
Origem e Primeiras Culturas
A história do café começou no século VII, nas terras altas da Etiópia, onde as tribos locais consumiam o fruto em formas variadas. O conhecimento do café se expandiu para o Egito e outros países árabes, onde a bebida foi incorporada ao cotidiano. A palavra “café” deriva do termo árabe “qahwa”, que significa “vinho”, refletindo a importância da bebida na cultura árabe.
Segundo uma lenda, um pastor chamado Kaldi observou que suas cabras ficavam mais espertas ao consumir os frutos do cafeeiro. Ele experimentou os frutos e notou um aumento na sua vivacidade. Um monge da região, ao saber do fato, começou a utilizar uma infusão dos frutos para resistir ao sono durante as orações.
As tribos africanas que conheciam o café desde a Antiguidade moíam os grãos e faziam uma pasta usada para alimentar os animais e aumentar as forças dos guerreiros. O cultivo se expandiu inicialmente na Arábia, introduzido provavelmente por prisioneiros de guerra, onde se popularizou aproveitando a proibição do álcool pelo Islã.
Disseminação da Produção e Consumo
Em 1475, Constantinopla viu surgir a primeira loja de café. O café se beneficiou da expansão do Islamismo e, posteriormente, do desenvolvimento do comércio durante os descobrimentos. Por volta de 1570, a bebida foi introduzida em Veneza, Itália, e após a aprovação do papa Clemente VIII, foi liberada para consumo pelos cristãos.
A primeira casa de café da Europa ocidental foi aberta na Inglaterra em 1652, seguida pela Itália dois anos depois. Em 1672, Paris inaugurou sua primeira casa de café. A França foi o primeiro país a adicionar açúcar ao café durante o reinado de Luís XIV. O café chegou a Java, aos Países Baixos, e, através da Companhia das Índias Ocidentais, ao Novo Mundo, espalhando-se nas Guianas, Martinica, São Domingos, Porto Rico e Cuba.
Lavouras de Café no Brasil
Em 1727, o sargento-mor Francisco de Melo Palheta trouxe clandestinamente mudas de café da Guiana Francesa para o Brasil. As primeiras plantações ocorreram na Região Norte, no estado do Pará, expandindo-se para o Maranhão e a Bahia. No entanto, as condições climáticas não eram ideais, e entre 1800 e 1850, o cultivo se deslocou para o Rio de Janeiro, São Paulo e Minas Gerais.
O café se tornou a principal fonte de receitas do Brasil e de divisas externas a partir da década de 1850. O sucesso da lavoura cafeeira em São Paulo fez do estado um dos mais ricos do país, permitindo que fazendeiros influenciassem politicamente, até a Revolução de 1930.
O Fim do Tráfico e Seus Efeitos
A abolição do tráfico negreiro no Brasil redirecionou capitais para outras atividades econômicas, como indústrias, ferrovias, telégrafos e navegação. Isso, junto com o café, iniciou a modernização do país. Os cafeicultores recorreram ao tráfico interprovincial e incentivaram a imigração europeia para suas lavouras.
As lavouras de cana-de-açúcar no Nordeste venderam escravos para o Centro-Sul, a nova região escravagista do Brasil. A força da campanha abolicionista e a dificuldade em manter escravos nas fazendas impulsionaram a adoção do trabalho imigrante na década de 1880.
O Café e a Geada
No oeste de São Paulo, o café foi plantado em áreas altas para evitar geadas comuns nas baixadas dos rios. Espigões, divisores das bacias hidrográficas, foram locais de cultivo e construção de ferrovias e cidades. A grande geada de 1918 e a geada de 1975 afetaram significativamente as plantações, especialmente no norte do Paraná.
A Valorização do Café
O Convênio de Taubaté de 1906 foi um acordo entre estados cafeeiros para obter financiamento externo e armazenar café, diminuindo a oferta e elevando os preços. Essa prática se tornou permanente na década de 1920, mas com a crise de 1929, o governo de Getúlio Vargas optou por queimar estoques de café para manter os preços elevados.
Entre 1931 e 1943, 72 milhões de sacas de café foram queimadas. A partir de 1944, a oferta de café passou a ser regulada por convênios entre países produtores, garantindo um controle maior dos preços no mercado internacional.
Na Europa
Estabelecimentos comerciais na Europa consolidaram o consumo de café. Casas de café famosas, como o Café Nicola em Lisboa e o Virgínia Coffee House em Londres, tornaram-se pontos de encontro para intelectuais e políticos. Na França, durante o reinado de Luís XIV, o café foi adoçado pela primeira vez.
O conde de Rumford inventou a cafeteira no final do século XVIII, impulsionando a popularidade da bebida. Outra cafeteira, criada pelo francês Descroisilles em 1802, separava dois recipientes por um filtro, facilitando o preparo da infusão.