Trump joga bomba tarifária no Brasil e deixa Norte e Nordeste à beira do colapso econômico
O tarifaço imposto pelos Estados Unidos sobre produtos brasileiros tem efeitos assimétricos e profundamente preocupantes. Em um país continental como o Brasil, o impacto de uma medida externa depende do tipo de produto exportado, da dependência daquele mercado e da robustez econômica regional. E foi exatamente isso que a Fundação Getulio Vargas procurou medir ao analisar os efeitos sociais e econômicos da nova tarifa de 50% imposta por Donald Trump a quase 700 itens. Os dados revelam que, mais do que uma medida comercial, o tarifaço escancara e amplia a desigualdade entre as regiões brasileiras.
Pontos Principais:
- Trump impôs tarifa de 50% sobre quase 700 produtos brasileiros.
- Estudo da FGV indica que o Nordeste e o Norte são os mais vulneráveis.
- Pequenos produtores de mel no Piauí já enfrentam queda nos preços.
- O petróleo do Rio escapou da tarifa, mas o aço foi atingido.
- Sudeste e Centro-Oeste sofrem menos devido à industrialização e mercados diversos.
- FGV recomenda diversificar parceiros comerciais e produtos exportados.
- Governos locais adotam medidas emergenciais, mas especialistas pedem ação federal.
- Impactos incluem desemprego, retração econômica e insegurança para exportadores.
No Nordeste, onde a economia está fincada em atividades primárias como a produção de frutas, mel e camarão, a tensão é palpável. No Piauí, estado responsável por boa parte das exportações de mel para os Estados Unidos, apicultores relatam prejuízos imediatos. Antes mesmo da medida entrar oficialmente em vigor, empresas passaram a pagar menos pelo produto. De R$ 18 o quilo, o mel despencou para R$ 15 — um baque que pode inviabilizar a atividade de milhares de agricultores familiares. “Se continuar pelo menos a R$ 15, ainda vai. Se diminuir mais que isso, aí fica inviável da gente trabalhar”, desabafa o apicultor José Claro de Souza.
A cadeia produtiva do mel no Brasil é composta em sua maioria por pequenos produtores, que veem na apicultura sua principal fonte de renda. Segundo Samuel Araújo, CEO do Grupo SAMA, que beneficia o produto no estado, o clima entre os trabalhadores do setor é de absoluto pânico. “Estamos incluídos dentro de uma cadeia que tem uma importância social muito grande. Está todo mundo apavorado”, relata, destacando o efeito dominó que uma queda no preço pode causar em toda a economia local.
Enquanto isso, o Rio de Janeiro respira aliviado — ao menos em parte. O petróleo, principal produto de exportação fluminense, ficou fora da lista de produtos atingidos pela nova tarifa. Isso garantiu uma espécie de escudo temporário à economia do estado, cuja dependência do setor petrolífero gira em torno de 60%. “O fato de a indústria do petróleo não ter sido atingida é muito importante”, afirmou Luiz Césio Caetano, presidente da Firjan. Já o aço, segunda principal commodity da região, não teve a mesma sorte: desde junho, já está sujeito à taxação máxima.
O estudo da FGV classifica os riscos por região com base em variáveis como concentração de mão de obra, tipo de produto exportado e grau de qualificação da força de trabalho. O resultado mostra que o Nordeste enfrenta risco de impacto “alto a muito alto”, enquanto o Norte está na faixa de risco “alto”. O Sul, com sua produção de carnes e móveis, aparece com risco “médio”. O Sudeste, por sua vez, foi avaliado com risco “baixo a médio”, beneficiado por sua maior diversificação produtiva e pela saída de itens-chave da lista de taxação.
No Centro-Oeste, onde o agronegócio domina as exportações com carnes, grãos e minérios, o risco foi classificado como “baixo”. A região é menos dependente dos Estados Unidos e mantém parcerias comerciais com outros mercados internacionais, o que reduz a exposição a crises específicas como esta. Essa característica de diversificação aparece como uma das principais recomendações do estudo: fortalecer mercados alternativos é, segundo os especialistas, a forma mais segura de proteger a economia nacional.
Flávio Ataliba Barreto, pesquisador da FGV IBRE e autor do estudo, afirma que o Brasil precisa de uma estratégia dupla: ampliar os parceiros comerciais e diversificar sua base de produção. Para ele, a atual dependência de produtos primários e de mercados restritos deixa o país vulnerável a choques externos. “Isso dá um colchão, uma segurança maior, para nossa pauta de exportação não estar suscetível a eventos como esse — tarifas, mas também guerras ou outros problemas que afetem diretamente a nossa economia”, explica.
A pesquisa aponta ainda que os efeitos do tarifaço não se limitam à queda nas exportações. Há riscos imediatos de aumento do desemprego em áreas menos industrializadas, retração econômica em municípios que dependem de uma ou duas cadeias produtivas e dificuldade de acesso ao crédito para pequenos produtores. O cenário também pressiona o governo federal, que precisa pensar em políticas de incentivo regionalizadas para mitigar os danos.
Por enquanto, alguns estados tentam agir por conta própria. Governos locais já anunciaram medidas emergenciais, como incentivos fiscais e liberação de crédito para produtores afetados. Mas economistas alertam que essas ações isoladas não serão suficientes sem o apoio da União. Um plano nacional para enfrentamento da crise tarifária é visto como essencial para evitar que o abismo entre as regiões se aprofunde ainda mais.
Mesmo com a possibilidade de revisão na lista de produtos afetados, o estrago já está em curso. A simples sinalização de sobretaxa já provocou retração no comércio e incertezas no planejamento de exportadores. A guerra comercial iniciada por Trump atinge o Brasil de forma assimétrica — e o mapa do impacto revela que, mais uma vez, o Norte e o Nordeste são os primeiros a sentir o golpe.
Com informações de Globo.
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