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Por que a guerra no Sudão não está em destaque na mídia no Brasil? País enfrenta pior crise humanitária do mundo

O Sudão enfrenta a pior crise humanitária do mundo, com milhões de pessoas deslocadas e uma fome devastadora que pode matar milhões até o final do ano. O conflito, impulsionado por potências externas, tem potencial para desestabilizar a região e afetar o comércio global, exigindo atenção urgente da comunidade internacional.
Publicado em Internacional dia 1/09/2024 por Alan Corrêa

O Sudão, um país com uma longa história de conflitos, vive atualmente o que pode ser considerado o pior desastre humanitário do mundo. Desde abril de 2023, quando as tensões entre o exército sudanês (SAF) e a milícia Forças de Suporte Rápido (RSF) explodiram em violência, o país tem mergulhado em uma espiral de destruição. Estima-se que cerca de 150 mil pessoas já foram mortas, e mais de 10 milhões, um quinto da população, foram forçadas a deixar suas casas.

A fome que se aproxima pode ser a mais devastadora em quatro décadas, comparável apenas à que assolou a Etiópia na década de 1980. Se a ajuda não chegar em tempo, milhões de civis poderão morrer até o final do ano. A crise alimentar, agravada pela destruição de plantações e o bloqueio de ajuda humanitária, tem o potencial de se tornar a mais mortal desde a Grande Fome da China, nos anos 1950 e 1960.

A guerra no Sudão, no entanto, não é apenas uma tragédia local. Sua localização estratégica e suas fronteiras porosas com sete países frágeis transformam o conflito em uma bomba-relógio geopolítica. Potências do Oriente Médio e a Rússia têm apoiado os lados em conflito, ampliando o caos dentro e fora do Sudão. O envolvimento de países como Emirados Árabes Unidos, Irã, Egito e Rússia apenas intensifica a destruição, transformando o Sudão em um mercado de guerra onde vidas humanas são tratadas como mercadoria.

A desestabilização causada pelo conflito já ameaça espalhar o caos por toda a África e além. As fronteiras do Sudão com países como Chade, Egito, Etiópia e Líbia já enfrentam fluxos de refugiados, armas e mercenários. Além disso, a possibilidade de o Sudão se tornar um refúgio para terroristas ou um Estado desgovernado pode comprometer seriamente a segurança global. A proximidade do Sudão com o Mar Vermelho e o Canal de Suez, uma das rotas comerciais mais importantes do mundo, aumenta ainda mais os riscos de impactos econômicos globais.

Apesar da gravidade da situação, a resposta da comunidade internacional tem sido lenta e insuficiente. Enquanto potências ocidentais estão ocupadas com outros conflitos globais, como na Ucrânia e em Gaza, o Sudão foi deixado à própria sorte. A falta de ação decisiva e a paralisia das organizações internacionais, como a ONU, só pioram a situação.

Ainda assim, há caminhos para atenuar o desastre. A ajuda humanitária deve ser ampliada com urgência, com suprimentos de alimentos e medicamentos entrando no país por todas as fronteiras possíveis. Além disso, a pressão sobre os atores externos que alimentam o conflito precisa ser intensificada. Sanções econômicas e diplomáticas devem ser impostas a qualquer governo ou empresa que esteja lucrando com a guerra.

O tempo para agir é agora. O mundo não pode mais ignorar o colapso do Sudão, uma crise que, se não for contida, terá consequências desastrosas não apenas para o país, mas para todo o planeta.

Fonte: CFR, Rescue e TheEconomist