Por Sr. Roberto Kasuo – Arautos do Evangelho. Em artigo anterior, vimos como a Mãe de Deus aparecera a Madre Mariana de Jesus Torres mandando que encomendasse uma imagem d’Ela, em 1594.
Como o pedido não fora atendido, Nossa Senhora aparece novamente à virtuosa freira, cinco anos depois, e a repreende por isso. A humilde religiosa repetiu a mesma tímida objeção feita anos antes:
— Bela Senhora e querida Mãe de minha alma, a insignificante formiguinha que tendes em vossa presença não poderá descrever a nenhum artista vossas belas feições, vossa formosura, nem vossa estatura; não tenho palavras para explicar, e não há na terra ninguém capaz de fazer a obra que me solicitais. — Nada disto te preocupe, filha querida. A perfeição da obra corre por minha conta.
Gabriel, Miguel e Rafael tomarão a seu cargo secretamente a fabricação de minha imagem. Deverás chamar Francisco del Castillo, que entende de arte, e dar-lhe uma sucinta descrição de minhas feições, exatamente como Me viste, pois com esta finalidade apareci tantas vezes a ti.
“Hoje mesmo, quando amanhecer, irás ter com o Bispo”, ordenara a Virgem Santíssima. Madre Mariana, porém, antevendo diversos obstáculos, ia adiando o cumprimento da ordem recebida. Doze dias depois, Ela lhe apareceu de novo, resplendente de luz como sempre, mas desta vez silenciosa e olhando-a com amável severidade.
Depois de ouvir uma maternal advertência, seguida de explicações que desfizeram todos os seus temores, respondeu a religiosa: — Bela Senhora, justa é vossa repreensão. Peço-Vos perdão e misericórdia, e prometo emendar-me. Hoje mesmo falarei com o Bispo para dar início à execução de vossa imagem.
De fato, nesse mesmo dia expôs a Dom Salvador de Ribera a ordem recebida da Rainha do Céu. Este ouviu com atenção o relato da santa priora, pôs à prova sua objetividade, por meio de muitas perguntas capciosas, e, por fim, deu inteira aprovação ao projeto; comprometeu-se inclusive a ajudar em tudo quanto fosse necessário à sua pronta realização.
Apressou-se então Madre Mariana em contratar o escultor Francisco del Castillo, que recebeu essa incumbência como uma insigne graça de Nossa Senhora e recusou categoricamente qualquer pagamento por seus serviços. Gastou vários dias procurando em Quito e nos arredores a melhor madeira, e logo pôs mãos à obra. Trabalhava com tanto amor, e sentia tamanha consolação, que não conseguia conter as lágrimas.
Logo surgiram doadores para três importantes peças de ourivesaria: as chaves de prata, a coroa e o báculo. A pedido das freiras, o escultor fazia todo o serviço, não no seu ateliê, mas no coro alto do mosteiro. Do rosto de Nossa Senhora do Bom Sucesso partiam raios de luz. Marcara-se para o dia 2 de fevereiro de 1611 a solene bênção litúrgica da imagem sagrada. Três semanas antes desse prazo, faltava apenas um “pequeno” detalhe: dar ao rosto um colorido digno da face da Santa Virgem das Virgens. Decidiu o mestre del Castillo fazer uma pesquisa à procura das melhores tintas; partiu com esse objetivo, prometendo estar de volta no dia 16 de janeiro para executar a delicada operação, de longe a mais importante de sua obra.
Grande era a expectativa das religiosas quando, no alvorecer do dia 16, dirigiam- se à capela para, como de costume, louvar Nossa Senhora com o cântico do Pequeno Ofício. Ao se aproximarem do coro alto, ouviram melodiosas harmonias que as deixaram cheias de emoção. Entraram pressurosas e – oh, maravilha! –, uma luz celeste inundava todo o recinto, no qual ressoavam arrebatadoras vozes de Anjos que cantavam o hino Salve Sancta Parens (Salve, Santa Mãe). Aí se deram conta do portentoso fato: a imagem estava milagrosamente concluída!
Transbordantes de enlevo, contemplavam aquele celestial rosto, do qual partiam raios que iluminavam toda a igreja. Aureolada por essa vivíssima luz, a fisionomia da santa imagem se mostrava majestosa, serena, doce, amável e atraente, como que convidando suas filhas a se achegarem com confiança e dar-lhe um filial abraço de júbilo e de boas-vindas. O semblante do Menino Jesus exprimia amor e ternura para com aquelas suas esposas tão estimadas por Ele e por sua Mãe. Nesse dia, todas progrediram na vida espiritual. Compreendendo melhor a própria vocação, amavam mais o seu Divino Esposo e se empenhavam no cumprimento exato da regra e dos deveres particulares.
Na hora combinada, chegou Francisco de Castillo, feliz por ter encontrado tintas excelentes para dar o acabamento à obra escultural. Sem nada dizer-lhe do ocorrido, Madre Mariana e algumas outras monjas o acompanharam ao coro alto. Impossível descrever a surpresa e a emoção do piedoso artista.
— Madres, que vejo? Esta primorosa imagem não é obra minha! Não sei o que sente o meu coração, mas esta é uma obra angélica. Escultor algum, por mais hábil que seja, jamais poderá sequer imitar tanta perfeição e tão peregrina beleza!
Isto dizendo, caiu de joelhos aos pés da santa imagem do Bom Sucesso e desafogou seu coração, deixando jorrar dos olhos lágrimas em superabundância.
Levantou-se em seguida e lavrou um documento, declarando sob juramento: primeiro, que aquela imagem do Bom Sucesso não era obra sua, mas dos Anjos, pois não era a escultura deixada por ele seis dias antes no coro superior do mosteiro; segundo, que em sua já longa vida de sessenta e sete anos, nunca havia visto, nem sequer na Espanha, cor de pele igual àquela.
Não contente com isto, partiu sem tardança à procura do Bispo Dom Salvador de Ribera, ao qual fez um detalhado relato do acontecido, reafirmando que naquela imagem de Nossa Senhora do Bom Sucesso nada era obra de suas mãos: nem a escultura nem, muito menos ainda, a pintura e a cor da pele.
Ficou, assim, bem documentado que a imagem de Nossa Senhora do Bom Sucesso foi de fato executada pelos Anjos. A Virgem do Bom Sucesso cumpriu à risca a promessa feita a Madre Mariana: “A perfeição da obra corre por minha conta. Gabriel, Miguel e Rafael tomarão a seu cargo secretamente a fabricação de minha imagem”.