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Evolução canina: Cientistas apontam que cães estão entrando em uma nova fase de domesticação

Estudo revela que cães estão passando por uma terceira fase de domesticação, impulsionada pela ocitocina, o hormônio do amor, que influencia o comportamento social e a adaptação dos animais à vida moderna.
Publicado em Curiosidades dia 21/10/2024 por Alan Corrêa

Pesquisas recentes realizadas por cientistas da Universidade de Linköping, na Suécia, sugerem que os cães estão passando por uma nova fase em seu processo de domesticação. Essa evolução está sendo impulsionada pelo desejo dos humanos por animais de estimação mais adequados ao estilo de vida contemporâneo, o que está relacionado a mudanças no comportamento e na biologia dos cães.

A ocitocina, conhecida como o hormônio do amor, é uma substância que promove a interação social e o vínculo entre indivíduos. Esse hormônio desempenha um papel essencial na relação entre cães e humanos, especialmente em cães de serviço, que se destacam pela capacidade de se adaptar às necessidades dos seus donos. A pesquisa aponta que a ocitocina ajuda os cães a buscar apoio e interação social, algo que pode ser resultado de variações genéticas associadas aos receptores desse hormônio.

Um estudo específico realizado com 60 cães da raça golden retriever mostrou como esses animais reagem ao spray nasal de ocitocina, que aumenta a sensibilidade do animal à interação com humanos. Comparado com uma solução salina neutra, o spray de ocitocina aumentou significativamente a disposição dos cães de buscar ajuda quando confrontados com um problema.

Segundo os pesquisadores, essa evolução nos cães está relacionada ao processo de urbanização e ao estilo de vida sedentário dos humanos. No passado, os cães eram vistos principalmente como animais de trabalho, responsáveis por caçar pragas, proteger as casas e cuidar do gado. Hoje, no entanto, o papel dos cães é predominantemente o de companheiros, o que está alterando seus comportamentos e habilidades sociais.

A pesquisa também aponta que cães de serviço, como aqueles treinados no Puppy Kindergarten, um programa da Duke University que prepara filhotes para se tornarem cães de serviço, são considerados os mais adaptados a essa nova fase da domesticação. Eles não apenas auxiliam em tarefas cotidianas, como também são treinados para serem calmos e amigáveis, facilitando a convivência com seus donos em ambientes urbanos.

Outro ponto importante levantado pelo estudo é que cães com comportamentos mais energéticos ou ansiosos podem ter dificuldades para se adaptar à vida urbana. Esses cães tendem a ser abandonados em abrigos, onde enfrentam dificuldades para encontrar novos lares. Isso indica que a evolução social dos cães está diretamente ligada às mudanças no estilo de vida humano.

Especialistas como Brian Hare e Vanessa Woods, que trabalham no Duke Canine Cognition Center, reforçam que essa nova fase da domesticação é um reflexo da necessidade de os cães se ajustarem às pressões sociais e biológicas impostas pelo convívio com os humanos. Eles destacam que o papel dos cães passou de trabalhadores para companheiros, e essa transformação está moldando o comportamento dos animais de forma significativa.

Os pesquisadores observam que cães de serviço são “excepcionalmente bem adaptados” ao século XXI. Eles possuem comportamentos que muitos donos de cães de estimação desejam, como serem calmos, amigáveis e eficientes em suas tarefas. Além disso, esses cães tendem a ser mais sociáveis, inclusive com estranhos, o que os diferencia dos cães de estimação tradicionais.

No entanto, essa evolução não significa que todos os cães estão se adaptando da mesma maneira. Cães que não conseguem se ajustar às demandas de convivência urbana, como aqueles com temperamentos mais agressivos ou medrosos, estão mais sujeitos ao abandono. Isso reforça a ideia de que a domesticação continua sendo um processo ativo e dinâmico.

Por fim, os cientistas destacam que o comportamento dos cães está sendo moldado de acordo com as necessidades humanas modernas. Isso inclui a capacidade de serem companheiros em ambientes urbanos, o que pode significar uma transformação significativa no modo como os cães interagem com seus donos e com o mundo ao seu redor.

A urbanização e o aumento da vida em ambientes fechados também estão influenciando esse processo, o que resulta em cães que são mais adaptados a viver em espaços reduzidos, sem a necessidade de grandes áreas para explorar, como era comum há algumas décadas.

Fonte: Universidade de Linköping, iG, OGlobo e RevistaOeste.