A Magia de Caieiras: Transformação de Educadores em Professores. Por Bia Ludymila (MTB 0081969/SP).
Num passe de mágica digno das melhores escolas de ilusionismo, Caieiras decidiu que educadores poderiam se tornar professores de creche sem o árduo caminho do concurso público. A Lei nº 5.606, promulgada com pompa pelo executivo local, faz mais do que alterar nomenclaturas; ela desafia a própria lógica de como entendemos mérito e competência no serviço público.
Não é segredo que o concurso público é o pilão onde se trituram as esperanças de muitos, mas também é a balança que garante que todos, independente de sua origem, tenham a mesma chance de servir à comunidade. Ignorar isso é mais do que um erro administrativo; é um flerte com a injustiça.
A decisão de Caieiras parece ter sido tomada em uma reunião menos preocupada com os princípios de legalidade, impessoalidade e moralidade e mais com a conveniência administrativa. Afinal, por que se preocupar com o rigoroso processo de seleção quando se pode simplesmente ‘promover’ aqueles que já estão lá? Facilidade, parece, é a palavra de ordem.
O Procurador-Geral de Justiça do Estado de São Paulo, Mário Luiz Sarrubbo, não viu graça nessa mágica. A Ação Direta de Inconstitucionalidade que ele moveu é um lembrete sério de que as leis não são apenas letras mortas em papel; elas são os pilares sobre os quais se constrói a confiança pública. A contestação dessa lei não é apenas sobre educadores ou professores; é sobre garantir que a administração pública permaneça um campo nivelado para todos.
E não é apenas sobre legalidade. É sobre moralidade. É sobre assegurar que o professor que ensina nossos filhos tenha passado por uma avaliação rigorosa de suas habilidades e conhecimentos, e não apenas por uma mudança administrativa conveniente. Se formos aceitar que qualquer um pode se tornar professor sem o devido processo, o que isso diz sobre o valor que atribuímos à educação?
Talvez o mais irônico nesse cenário seja que a educação, um campo tão essencial para o desenvolvimento de uma sociedade justa e igualitária, esteja sendo tratada com tal despreocupação. O ensino é uma arte e uma ciência que deveria ser abordada com o máximo respeito e cuidado. Transformar educadores em professores sem um processo adequado não é apenas uma falha administrativa; é uma falha moral.
O caso de Caieiras deve nos servir de exemplo, não apenas sobre o que está em jogo quando falamos de leis e administração pública, mas também sobre o cuidado que devemos ter ao moldar as políticas que afetam nossas crianças e nosso futuro. Se é por meio da educação que esperamos construir um futuro melhor, então começar com atalhos parece ser o modo errado de trilhar esse caminho.