Ressaca sem mito: o que médicos e nutricionista dizem para aliviar após festas e buscar socorro cedo

Depois de uma noite de brindes, o relógio do corpo cobra com juros: acetaldeído, desidratação e inflamação viram dor de cabeça, náusea e irritação. A nutricionista Patricia Neri Cavalcanti e o endocrinologista Clayton Macedo explicam por que genética, fígado e congêneres mudam o estrago; já o neurologista Diogo Haddad alerta para riscos de automedicação. Água ajuda, mas eletrólitos e comida leve fazem diferença. Sinais graves pedem médico. Em geral, efeitos inflamatórios ficam por 12-24h, mesmo.
Publicado em Saúde e Bem-Estar dia 28/12/2025 por Alan Corrêa

Em 25 de dezembro de 2025, às 05h00, o g1 publicou na editoria de Saúde uma explicação técnica, com apoio de especialistas, sobre o que é a ressaca, por que ela aparece com intensidade tão desigual entre pessoas e quais medidas ajudam a reduzir sintomas após consumo de álcool em datas comemorativas.

Pontos Principais:

  • A ressaca é descrita como soma de efeitos inflamatórios, metabólicos e neurológicos do álcool.
  • Patricia Neri Cavalcanti explica o papel do acetaldeído e da desidratação nos sintomas.
  • Clayton Macedo aponta a inibição do ADH, a irritação gastrointestinal e a hipoglicemia como mecanismos relevantes.
  • O texto relaciona congêneres a ressacas mais intensas e distingue bebidas por tendência de “estrago”.
  • Diogo Haddad alerta para riscos da automedicação, especialmente com paracetamol e anti-inflamatórios.
  • Há sinais de gravidade listados que exigem atendimento médico imediato.

O texto parte de um ponto pouco glamouroso, porém decisivo: a ressaca não é um evento único, e sim um pacote de reações inflamatórias, metabólicas e neurológicas que se somam. A nutricionista Patricia Neri Cavalcanti, do Hospital Samaritano Higienópolis (Rede Américas), descreve a conversão do etanol em acetaldeído no fígado como uma etapa central do mal-estar, pela toxicidade do composto.

Na mesma linha, entra a desidratação, inclusive quando discreta. O mecanismo é conhecido: o álcool inibe o hormônio antidiurético (ADH), elevando a diurese e favorecendo sede, tontura, boca seca, fadiga e piora da dor de cabeça, conforme a explicação do endocrinologista e médico do esporte Clayton Macedo, do Hospital Israelita Albert Einstein e do Instituto Cohen.

Há um detalhe que desmonta o autoengano do “acordei bem, então passou”: Macedo pontua que a ressaca costuma se manifestar quando o nível de álcool no sangue já caiu, mas o organismo continua lidando com efeitos inflamatórios, hormonais e metabólicos. Na tradução clínica, a pessoa desperta com sensação de corpo moído, hipersensibilidade e cansaço, associados à liberação de citocinas inflamatórias.

O trato gastrointestinal também entra na conta, com força. O álcool irrita a mucosa do estômago e do intestino, altera o refluxo e retarda o esvaziamento gástrico, combinação que torna a náusea menos um “capricho” e mais um sintoma esperado do processo. O texto ainda registra a possibilidade de hipoglicemia, sobretudo quando a bebida é consumida em jejum ou após atividade física, com tremor, sudorese e palpitação.

No pano de fundo, há uma variável que não costuma aparecer na anedota do “eu aguento”: o sono. O álcool fragmenta e reduz a qualidade do descanso, fator que contribui para irritabilidade, maior sensibilidade à dor e sensação persistente de exaustão no dia seguinte, mesmo que a ingestão tenha terminado horas antes.

A diferença entre uma ressaca “administrável” e um quadro que derruba não se explica apenas pela quantidade. Patricia cita genética e eficiência enzimática como fatores que modulam a velocidade de metabolização do álcool; menciona, ainda, que alterações hepáticas, uso regular de medicamentos ou inflamação no fígado tendem a retardar o processamento, agravando o mal-estar. Em síntese: duas pessoas podem beber o mesmo e sofrer de forma muito diferente.

O tipo de bebida também pesa, em razão dos congêneres: substâncias da fermentação e do envelhecimento, como pequenas quantidades de metanol, taninos, histaminas e sulfatos. No recorte específico da ressaca, o texto aponta que esses compostos podem aumentar inflamação, irritação gastrointestinal e dor, e lista exemplos por intensidade: mais ressaca com vinho tinto, uísque e conhaque; intermediário com cerveja; menos com vodca e gim, descritas como bebidas mais “puras”. A própria reportagem acrescenta uma nota editorial: esses níveis são seguros em bebidas legalmente produzidas e não se confundem com intoxicação por metanol em casos de adulteração.

Quando o assunto é “quanto tempo dura”, a resposta é menos confortável do que a crença popular. A reportagem registra que o fígado metaboliza, em média, meia a uma dose de álcool por hora, mas que os efeitos inflamatórios e a piora do sono podem se estender por 12 a 24 horas, mantendo o cansaço mesmo após a eliminação do álcool. Em paralelo, o material também traz um dado ilustrativo do cenário: 64% dos brasileiros declaram que não beberam álcool em 2025.

Hidratação melhora sintomas ligados à desidratação, mas não “apaga” a inflamação nem acelera o metabolismo do álcool. Para quadros mais intensos, o texto cita água de coco, isotônicos ou soro caseiro como alternativas úteis para repor eletrólitos, além de alimentos leves e nutritivos, como frutas ricas em água, caldos e proteínas magras; e reforça a estratégia preventiva de comer antes de beber, já que estômago vazio acelera absorção e favorece oscilações de glicemia. Sobre remédios, o neurologista Diogo Haddad, do Hospital Nove de Julho (Rede Américas), alerta para evitar paracetamol após consumo excessivo e recomenda cautela com anti-inflamatórios, pelo risco gastrointestinal e sobrecarga em pessoas desidratadas; a reportagem também lista sinais de alerta que pedem atendimento: vômitos persistentes ou com sangue, confusão mental, dor de cabeça extrema, palpitações, dor abdominal intensa, diarreia com sangue, sudorese intensa ou tremores.