A operação brasileira da rede de supermercados Dia foi vendida para um fundo gerido pela MAM Asset Management, do Banco Master. A venda ocorreu em meio a uma crise que envolve concorrência com os atacarejos, lojas sucateadas e uma dívida de R$ 1,1 bilhão. O negócio foi fechado por um valor simbólico de 100 euros e marca a saída do grupo espanhol do mercado brasileiro.
O Dia foi criado na Espanha em 1979, focado em preços baixos. A rede chegou ao Brasil em 2001 e teve quase 600 unidades no país. Atualmente, os maiores mercados do Dia são a Espanha, com 2.300 lojas, e a Argentina, com 1.048 unidades. A operação em Portugal foi vendida em agosto de 2023. No Brasil, o Dia adotou um modelo de operação enxuto, com poucos funcionários por loja e muitas tarefas acumuladas.
Nos últimos anos, os atacarejos expandiram-se para regiões centrais das cidades, dificultando a competição em termos de preço para o Dia. Sete em cada dez famílias brasileiras passaram a fazer compras em atacarejos. A rede Dia, em resposta, tentou reduzir custos, o que se refletiu na qualidade das lojas, que ficaram sujas e sucateadas. Esse cenário afastou consumidores e piorou a situação financeira da empresa.
O Dia também enfrentou dificuldades com a expansão de lojas de conveniência. Redes como Carrefour e Pão de Açúcar investiram em unidades menores, focadas na conveniência do consumidor. Novos concorrentes, como a rede Oxxo, também entraram no mercado. A rede Dia não conseguiu se adaptar a essa nova realidade e manteve seu modelo de operação, que não funcionou mais no Brasil.
A venda da operação brasileira foi anunciada dois meses após o pedido de recuperação judicial da rede. O Dia Brasil, que acumulava dívidas de mais de R$ 1 bilhão, fechou 343 lojas e três centros de distribuição. A empresa espanhola decidiu focar em seus mercados mais rentáveis, Espanha e Argentina, deixando o mercado brasileiro.
Os novos donos da operação brasileira terão que decidir sobre o futuro das lojas. Poderão modificar o modelo de negócio ou vender pontos estratégicos para outras redes. Alguns franqueados podem optar por manter suas operações de maneira independente. O processo de reestruturação será longo e custoso, exigindo esforços significativos para tornar a operação viável economicamente.
O setor de varejo alimentar é complexo e requer operações em escala para garantir a rentabilidade. Pequenos desvios podem gerar prejuízos significativos. A rede Dia enfrentou grandes desafios no Brasil e agora passa por um período de reestruturação sob nova gestão, que buscará estabilizar a operação e reduzir a dívida.