Caieiras

Quando Josef Mengele se escondeu em Caieiras: a história sombria que poucos conhecem

Após o fim da Segunda Guerra Mundial, o médico nazista Josef Mengele, conhecido como o “Anjo da Morte” de Auschwitz, viveu secretamente no Brasil. Em 1968, ele se escondeu em Caieiras, no interior de São Paulo, usando nome falso e frequentando locais públicos, como o cinema. A história, revelada por relatos e pela obra “Baviera Tropical”, mostra como Caieiras foi cenário de um capítulo obscuro da fuga de criminosos de guerra nazistas pela América do Sul.
Publicado em Caieiras dia 6/05/2025 por Alan Corrêa

Josef Mengele viveu em Caieiras nos anos 1960 sem ser identificado. Caieiras foi abrigo do médico nazista mais procurado do mundo após a guerra.

Pontos Principais:

  • Josef Mengele viveu em Caieiras sob identidade falsa entre 1968 e 1975.
  • Era conhecido como o “Anjo da Morte” por seus crimes em Auschwitz.
  • Relatos locais indicam que ele levava vida discreta, mas frequentava o cinema.
  • A história está documentada no livro “Baviera Tropical”, com base em fontes inéditas.

Enquanto o mundo comemorava o Dia da Vitória, encerrando oficialmente a Segunda Guerra Mundial na Europa em 8 de maio de 1945, Caieiras, no interior paulista, viria décadas mais tarde a se tornar cenário de um dos episódios mais obscuros da história moderna: o abrigo do médico nazista Josef Mengele. Conhecido como o “Anjo da Morte”, Mengele foi responsável por atrocidades cometidas contra prisioneiros em Auschwitz, onde liderava experimentos cruéis travestidos de ciência.

Após o colapso do regime nazista, Mengele fugiu da Europa e seguiu rumo à América Latina. Documentos e depoimentos reunidos no livro “Baviera Tropical”, da jornalista Betina Anton, indicam que ele passou por países como Argentina e Paraguai antes de se estabelecer no Brasil. Durante quase duas décadas, viveu sob identidade falsa, circulando por diferentes cidades do interior até chegar, em 1968, à cidade de Caieiras.

Foi nesse município, à época pouco urbanizado e cercado por áreas rurais, que Mengele encontrou refúgio em um sítio pertencente à família Stammer. O imóvel ficou conhecido entre os moradores mais antigos como a “casa do Alemão”, e, segundo relatos locais, alimentava rumores e curiosidade. Apesar de sua identidade real ser desconhecida para os vizinhos, o comportamento reservado e sotaque estrangeiro do visitante causavam especulações.

Mesmo escondido, Mengele não se isolava totalmente da vida pública. De acordo com testemunhos reunidos na obra biográfica, ele frequentava sessões de cinema em Caieiras e gostava especialmente de filmes de Velho Oeste. Evitava, porém, qualquer aproximação que pudesse revelar seu passado, nunca mencionando seu nome verdadeiro ou vínculos com o regime nazista.

A estadia de Mengele em Caieiras durou até fevereiro de 1975, quando se transferiu para o bairro Eldorado, na capital paulista. Sua vida clandestina chegou ao fim quatro anos depois, em 1979, quando morreu afogado em uma praia de Bertioga. Seus restos mortais foram sepultados em Embu das Artes sob outra identidade, sendo identificados oficialmente apenas décadas depois.

A história da presença de Mengele em Caieiras não faz parte dos livros escolares nem é frequentemente lembrada nos discursos oficiais. Contudo, ela integra um capítulo crucial da história da cidade, marcado por silêncio, omissão e pela surpreendente proximidade entre o cotidiano local e os desdobramentos globais de um dos maiores crimes do século XX.

O relato não é apenas uma curiosidade histórica. Ele expõe como o Brasil, e Caieiras em particular, acabaram inseridos no circuito de acolhimento informal de criminosos de guerra nazistas, realidade compartilhada com outros países latino-americanos. A ausência de uma política ativa de memória histórica contribui para que tais episódios permaneçam desconhecidos ou desvalorizados, mesmo quando envolvem personagens de relevância internacional.

Fonte: Arquivo de Caieiras, acervo do jornal e Prefeitura de Caieiras.