“10 reformas chocantes que vão mudar a Igreja Católica para sempre.” É com esse tom apelativo que uma publicação nas redes sociais se espalhou entre milhares de perfis, alegando que o Papa Leão XIV teria feito um pronunciamento histórico com medidas radicais como o fim do celibato sacerdotal, inclusão irrestrita da comunidade LGBTQIA+, ordenação de mulheres e reescrita do Catecismo. A mensagem viral ainda afirmava que tudo teria sido transmitido ao vivo da sacada da Basílica de São Pedro, com direito a apoio visual de uma imagem do Papa ao lado de símbolos LGBTQIA+.
Pontos Principais:
O problema é que nada disso aconteceu. O jornal português Observador, que integra a rede internacional de checagem de fatos, investigou a origem da publicação e classificou seu conteúdo como falso. O texto aponta que o link indicado como “fonte” da informação leva a um site já conhecido por espalhar boatos e manipulações digitais: o record.chainityai.com, que já foi alvo de outros fact checks da mesma redação.
A publicação, datada de 27 de junho de 2025, incluía supostas medidas como “Missas em todos os idiomas, inclusive gírias e formatos digitais”, “Transparência financeira total”, “Inteligência artificial integrada às operações do Vaticano” e “Comunhão universal”. O texto concluía com frases de impacto como “uma nova Igreja está surgindo”, sugerindo uma cisão interna no Vaticano com oposição das alas mais conservadoras.
Contudo, segundo os registros oficiais do magistério papal, o Papa Leão XIV não fez qualquer pronunciamento com esse teor. Seu pontificado, ainda recente, não publicou encíclicas ou exortações apostólicas. As poucas aparições públicas do pontífice aconteceram no dia de sua eleição e na missa do Angelus, ambas sem qualquer menção às supostas reformas. Não há, portanto, registro de qualquer anúncio a partir da sacada da Basílica, como a postagem sugeria.
A checagem ainda destacou que o site oficial do Vaticano disponibiliza todas as comunicações e decisões do Papa em tempo real. Nenhuma delas faz menção a alterações profundas na doutrina católica ou mudanças estruturais na organização do clero. Ao contrário: durante o Jubileu das Famílias, em 1º de junho de 2025, Leão XIV reafirmou o entendimento tradicional da Igreja sobre o matrimônio, definindo-o como “a regra do verdadeiro amor entre o homem e a mulher”.
Além da inconsistência com os canais oficiais, o conteúdo chama atenção pela tentativa de viralização com técnicas típicas de desinformação digital. A montagem visual, o uso de linguagem apelativa e a promessa de choque ou escândalo fazem parte de uma estratégia de engenharia social destinada a induzir cliques e reações. O próprio título da publicação — “O Papa Leão XIV acaba de mudar a Igreja Católica PARA SEMPRE!” — é construído para provocar forte impacto emocional.
O Observador reforça que a sacada da Basílica de São Pedro é um espaço reservado a momentos solenes, como a eleição de um novo Papa ou grandes celebrações litúrgicas. O uso dessa narrativa como cenário de um anúncio revolucionário é mais um indício de manipulação. Mesmo entre os cardeais e membros da Cúria Romana, não houve qualquer movimentação institucional nas últimas semanas que indique reformas do porte mencionado.
De forma didática, a matéria do Observador recomenda que qualquer leitor interessado em verificar as ações do atual pontífice acesse diretamente o site do Vaticano, onde estão reunidos todos os textos, discursos e decisões papais. A recomendação serve como antídoto a este tipo de boato, especialmente quando se trata de instituições milenares que, como a Igreja, seguem protocolos específicos de comunicação e atuação.
A classificação final do conteúdo foi “falso”, tanto pelo Observador quanto pela política de verificação do Facebook. Com isso, a plataforma poderá limitar o alcance da publicação e emitir avisos aos usuários que interagiram com a postagem. O caso reforça o papel do jornalismo responsável em tempos de desinformação em massa — e a necessidade de o público verificar antes de compartilhar.
Com informações de observador