Cajamar

Panelaço e apagão em Cajamar expõem crise no fornecimento de energia e água em SP

Apagão em Cajamar-SP deixa 1,35 milhão sem luz por mais de 24h, afetando também o abastecimento de água. Procon-SP notifica Enel, e moradores protestam. Governo e concessionária buscam soluções.
Publicado em Cajamar dia 14/10/2024 por Alan Corrêa

O cenário de crise energética em Cajamar, município da Grande São Paulo, escancarou uma realidade que vai além de um simples problema de abastecimento: mais de 1,35 milhão de consumidores enfrentam mais de 24 horas sem energia elétrica, afetando diretamente o fornecimento de água na região. O apagão gerado pelas fortes chuvas da última sexta-feira (11) levou os moradores do bairro Parque São Roberto a realizar um panelaço em protesto neste sábado (12), exigindo respostas sobre a retomada dos serviços essenciais. A Enel, concessionária responsável pela distribuição de energia, informou que ainda não há previsão de restabelecimento completo. O presidente da companhia, Guilherme Lancastre, destacou as dificuldades técnicas e variáveis envolvidas no processo de recuperação do sistema.

Esse apagão traz à tona questionamentos importantes sobre a infraestrutura e a resiliência dos serviços públicos em tempos de eventos climáticos extremos. Além disso, levanta dúvidas sobre a capacidade das concessionárias de energia e água em garantir o mínimo necessário para a população em momentos de crise. Quais são os desafios que agravam essas falhas? E como comunidades como Cajamar estão se adaptando para enfrentar essa nova realidade climática?

O temporal que atingiu a Grande São Paulo na sexta-feira (11) provocou estragos em várias regiões, deixando milhões de pessoas sem luz e água por mais de 24 horas. Em Cajamar, os bairros Parque São Roberto e Jordanésia foram gravemente afetados pela queda de árvores e falhas no sistema elétrico. A falta de energia levou à interrupção do abastecimento de água, já que o sistema de bombeamento da Sabesp também foi comprometido. De acordo com a Enel, cerca de 1,35 milhão de consumidores estavam sem eletricidade até a noite de sábado (12).

A situação se agrava pelo fato de que muitos clientes receberam informações de que o restabelecimento total da energia só aconteceria na segunda-feira (14), o que gerou ainda mais indignação. A Enel explicou que essa mensagem foi um erro de programação em seu sistema de atendimento, mas a resposta tardia não foi suficiente para acalmar os ânimos. O Procon-SP, ciente do impacto econômico e social da demora, notificou a Enel para apresentar um plano de contingência e detalhar as ações que serão adotadas em casos futuros.

Além da questão imediata da falta de energia, a paralisação no fornecimento de água amplificou os impactos sociais da crise. Moradores do Parque São Roberto relataram dificuldades em realizar atividades básicas e temem que a situação se prolongue, agravando ainda mais as condições de saúde e higiene da população local.

Os eventos climáticos severos, como o temporal que causou o apagão em Cajamar, têm se tornado mais frequentes, revelando fragilidades estruturais nos sistemas de energia e abastecimento de água. A falta de investimentos em redes elétricas mais modernas e preparadas para enfrentar adversidades climáticas é uma preocupação crescente. Especialistas alertam que a dependência de sistemas antigos e vulneráveis, somada ao aumento de eventos climáticos extremos, tende a ampliar a ocorrência de apagões e crises hídricas, como a que atinge Cajamar.

Do ponto de vista social, os impactos são profundos. Bairros periféricos como o Parque São Roberto sofrem mais com a precariedade no fornecimento de serviços básicos, criando um abismo ainda maior entre as regiões centrais e as áreas mais afastadas. Moradores que já vivem com poucas condições de infraestrutura acabam enfrentando crises de desabastecimento com mais intensidade. A insegurança alimentar e o aumento de doenças associadas à falta de saneamento são consequências imediatas em situações como essa.

Economicamente, a perda de energia também afeta o comércio e as pequenas indústrias locais. A ausência de luz interrompe as atividades produtivas, gerando prejuízos para empresários e comerciantes que dependem do fornecimento contínuo para manter seus negócios operando. Essa paralisação econômica, quando combinada com a falta de água, agrava ainda mais o cenário, comprometendo a subsistência das famílias e o desenvolvimento local.

Diante dessa crise, algumas ações têm sido tomadas para minimizar os impactos e evitar que situações semelhantes voltem a ocorrer. A Enel informou que está revisando seus protocolos de emergência, buscando soluções que possam garantir uma resposta mais rápida e eficiente em futuros eventos climáticos severos. Além disso, o governo do estado de São Paulo está desenvolvendo iniciativas para fortalecer a resiliência do sistema elétrico e de abastecimento de água, como a criação de fundos de emergência para a manutenção e modernização das redes.

Comunidades como a do Parque São Roberto, no entanto, estão tomando suas próprias medidas. Organizações locais têm se mobilizado para garantir o abastecimento de alimentos e água por meio de iniciativas de solidariedade entre os moradores. O uso de geradores e a criação de sistemas de captação de água da chuva são algumas das soluções alternativas adotadas por algumas famílias, que buscam maior independência em momentos de crise.

Por outro lado, o Procon-SP, em sua notificação à Enel, exige mais transparência e eficiência por parte da concessionária. O órgão de defesa do consumidor aponta que, em situações como essa, é fundamental que a população seja informada de maneira clara e precisa sobre o tempo estimado para a retomada dos serviços e sobre as ações que estão sendo adotadas para solucionar o problema.

A crise de abastecimento em Cajamar expôs as fragilidades de um sistema que precisa se adaptar rapidamente aos desafios impostos pelas mudanças climáticas. Além dos prejuízos econômicos e sociais, esse episódio reforça a necessidade urgente de modernização das redes de energia e abastecimento de água, assim como de políticas públicas que garantam a segurança e bem-estar das comunidades mais vulneráveis. A resposta rápida de governos e empresas é essencial para mitigar os impactos imediatos, mas, a longo prazo, o foco deve estar em prevenir que crises como essa se repitam.

Ao final, a pergunta levantada no início desta reportagem – sobre a capacidade de adaptação dos sistemas essenciais frente a eventos climáticos extremos – revela a complexidade do problema e a necessidade de uma ação coordenada entre governo, empresas e a sociedade para garantir um futuro mais resiliente.