A Associação Europeia para o Estudo da Obesidade (AESO) propôs novos critérios para o diagnóstico e tratamento da obesidade. Segundo a associação, o Índice de Massa Corporal (IMC), atualmente utilizado como principal ferramenta de diagnóstico, é insuficiente para avaliar completamente os riscos associados à obesidade. A AESO sugere que a distribuição da gordura corporal, especialmente a gordura abdominal, deve ser considerada um fator crucial para determinar a saúde de um indivíduo.
Os especialistas destacam que o acúmulo de gordura abdominal está associado a um risco maior de complicações cardiometabólicas. Este risco é significativo mesmo em indivíduos com um IMC abaixo do valor de corte tradicional para a obesidade. Portanto, a nova abordagem inclui pessoas com IMC entre 25 e 30, desde que apresentem alta gordura abdominal e complicações médicas, funcionais ou psicológicas relacionadas.
Para o tratamento da obesidade, a AESO mantém diretrizes que incluem mudanças comportamentais, como terapia nutricional, atividade física, redução do estresse e melhora do sono. Além disso, a terapia psicológica e o uso de medicamentos para obesidade, bem como procedimentos metabólicos ou bariátricos, são recomendados. No entanto, a associação destaca que as diretrizes atuais são baseadas em critérios antropométricos rígidos, o que pode limitar o acesso a tratamentos para pacientes com baixa IMC mas com alta carga de doença.
Os novos critérios propõem que pacientes com IMC de 25 ou superior, relação cintura-altura acima de 0,5 e comprometimentos funcionais ou psicológicos, sejam considerados para tratamento com medicamentos e procedimentos específicos. A AESO defende que os objetivos terapêuticos devem ser personalizados, levando em conta o estágio e a gravidade da doença, opções terapêuticas disponíveis, efeitos colaterais, riscos e preferências do paciente.
As novas propostas geram debates entre especialistas. Paulo Miranda, presidente da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia, vê a proposta como uma tentativa de adotar uma visão mais ampla e integrada da obesidade como uma doença complexa. Por outro lado, Ricardo Cohen, coordenador do Centro Especializado em Obesidade e Diabetes do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, considera a definição proposta inadequada. Ele argumenta que a obesidade é uma doença por si só e não deve depender apenas de fatores como gordura abdominal ou IMC para ser diagnosticada.
No Brasil, associações como a Abeso e a SBEM também propõem mudanças nos critérios de diagnóstico e tratamento da obesidade. A nova abordagem sugere que o foco deve ser na perda percentual de peso, e não apenas no IMC. A proposta inclui termos como “obesidade reduzida” e “obesidade controlada” para descrever pacientes que perdem peso, mesmo que seu IMC ainda indique obesidade.
O presidente da Abeso, Bruno Halpern, afirma que esta nova classificação pode mudar a percepção sobre o tratamento da obesidade, focando na melhoria da saúde através de perdas modestas de peso. Ele destaca que a nova abordagem vai ao encontro das diretrizes da AESO, que defendem que o objetivo do tratamento deve ser melhorar a saúde e a qualidade de vida, e não apenas a redução de peso a curto prazo.
Fonte: CNN.