Desesperados e Sem Proteção, Motoristas Burlam Lei para Combater Onda de Roubos.
A onda de roubos e furtos de celulares por “gangues do quebra-vidro” em São Paulo atingiu níveis alarmantes, levando cidadãos desesperados a tomarem medidas extremas e até ilegais para protegerem-se. Enquanto o número de ocorrências dispara, a população se vê forçada a criar suas próprias “soluções de segurança”, que vão desde mudanças de hábitos a equipamentos proibidos que fazem carros comuns parecerem viaturas descaracterizadas — uma infração de trânsito que, segundo especialistas, coloca ainda mais pessoas em risco.
Raquel Porto, médica de 36 anos, relata ter sido assaltada três vezes na região da cracolândia e agora evita ao máximo usar seu carro. “Me assaltaram três vezes lá. Roubaram meu colar, celular e relógio. Muitos colegas pararam de ir de carro”, diz. E ela não está sozinha. Segundo dados policiais, a média móvel de registros de roubos e furtos na área central mostra uma crescente preocupante. Somente no 3° Distrito Policial, são reportadas cerca de 45 ocorrências desse tipo por dia, e mais de 30 mil em toda a cidade mensalmente.
A instalação de sirenes e giroflex, vendidos a partir de R$ 90 na famosa Rua Santa Ifigênia, tem sido uma estratégia comum entre motoristas. Apesar de ilegal segundo o Código de Trânsito Brasileiro, lojistas apontam uma procura crescente por esses dispositivos. Um vendedor, sob anonimato, argumenta: “Tem gente que usa para se proteger, tem gente que usa para furar trânsito. É igual a vender uma faca: o cara que compra pode usar para fazer um churrasco ou cometer um crime.”
“Não temos uma estatística precisa sobre fiscalizações desse tipo de situação porque um giroflex irregular é considerado equipamento ou acessório proibido,” afirma o tenente coronel Marcos Cunha, do 1° Batalhão de Policiamento de Trânsito da PM, questionando a eficácia desses métodos e alertando para os riscos que podem representar.
O cenário é tão conturbado que até mesmo o deputado estadual Paulo Mansur foi flagrado usando um giroflex na Rodovia dos Imigrantes. Em nota, o deputado justificou que o equipamento “é para segurança” e que, usando um carro oficial, “sente receio de ficar parado no trânsito, à mercê dos criminosos.”
Além de táticas ilegais, motoristas recorrem a películas antivandalismo e outras estratégias como máscaras de figuras públicas para inibir a aproximação de criminosos. Luana Homma, 30 anos, revela que após ser vítima de um roubo, agora pendura uma máscara do ex-presidente Lula no banco do carona para simular companhia.
A situação expõe um sistema de segurança pública falho e uma população à beira do desespero, disposta a infringir a lei na tentativa de encontrar alguma forma de proteção em meio ao caos urbano. O dilema levanta questões urgentes: onde está a linha entre autoproteção e ilegalidade? E até que ponto o estado falha em seu dever de proteger seus cidadãos?
*Com informações de O Globo.