Macumba de Alcione “funciona” e vira símbolo cultural após prisão de Bolsonaro e crise com Trump

No sábado, Alcione brincou ao vivo que faria uma “macumbinha” para Donald Trump deixar o Brasil em paz. Dois dias depois, Jair Bolsonaro teve prisão domiciliar decretada por Alexandre de Moraes. A coincidência virou meme e símbolo de resistência popular, em meio à crise diplomática entre Brasil e EUA. O episódio transformou a cantora em ícone político-cultural e acirrou o debate sobre soberania e cultura popular.
Publicado em Política dia 5/08/2025 por Alan Corrêa

A cantora Alcione, uma das vozes mais potentes e respeitadas da música brasileira, tornou-se inesperadamente o centro de uma avalanche política e cultural nas redes sociais. Durante sua participação no programa “É de Casa”, da TV Globo, no sábado anterior à prisão de Jair Bolsonaro, a Marrom ironizou as interferências de Donald Trump no Brasil e disse, em tom espirituoso, que faria uma “macumbinha” para o ex-presidente dos Estados Unidos deixar o país em paz.

Pontos Principais:

  • Alcione disse ao vivo que faria “macumbinha” para Trump deixar o Brasil em paz.
  • Dois dias depois, Bolsonaro teve prisão domiciliar decretada por Alexandre de Moraes.
  • A coincidência viralizou nas redes e transformou Alcione em símbolo cultural e político.
  • Fala da cantora expôs críticas à interferência dos EUA e exaltou práticas culturais brasileiras.
  • O episódio gerou repercussões diplomáticas e aprofundou a crise entre STF e governo Trump.

Dois dias depois, em 4 de agosto de 2025, o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal, determinou a prisão domiciliar de Bolsonaro, após o ex-presidente violar novamente medidas cautelares e articular ações com aliados no exterior. A coincidência foi o estopim para que a internet atribuísse a “macumba da Marrom” uma força quase mística, ainda que com ironia, transformando Alcione em símbolo cultural de um Brasil em ebulição.

O episódio viralizou rapidamente nas plataformas digitais. Usuários do X (antigo Twitter), Instagram e TikTok passaram a repetir frases como “Jamais contrarie Alcione” ou “Macumba com groove não falha”. A cantora tornou-se trending topic e sua fala espirituosa passou a representar um tipo de justiça simbólica diante das ingerências estrangeiras e da crise institucional entre Brasil e Estados Unidos.

A repercussão foi ampliada pelo cenário político tenso. Donald Trump, reeleito presidente dos EUA, havia assinado um decreto impondo tarifa de 50% sobre produtos brasileiros e colocado o ministro Alexandre de Moraes na lista de sanções da Lei Magnitsky — mecanismo usado pelos EUA para punir estrangeiros envolvidos em violações de direitos humanos ou corrupção. As medidas foram lidas como retaliações diretas à atuação do STF em investigações contra aliados da extrema direita.

A prisão de Bolsonaro ocorreu após ele ter usado redes sociais de aliados para burlar ordens judiciais, além de manter contatos com parlamentares conservadores norte-americanos, como Nikolas Ferreira, apontado como peça-chave na articulação internacional contra o Judiciário brasileiro. O episódio se deu num momento em que o Itamaraty tentava, sem sucesso, conter a escalada diplomática e comercial provocada pelas sanções impostas por Washington.

Entre memes e postagens de apoio, Alcione foi exaltada por seu timing, coragem e por representar, com humor e leveza, sentimentos compartilhados por uma população cansada de pressões externas e instabilidade política. Sua frase — aparentemente casual — foi ressignificada nas redes como um ato de resistência popular, misturando crítica, religiosidade e orgulho cultural.

A fala da artista também abriu espaço para discussões sobre respeito às religiões de matriz africana, liberdade de expressão e identidade nacional. Ao utilizar o termo “macumba” em rede nacional, Alcione jogou luz sobre práticas espirituais muitas vezes marginalizadas, mas profundamente enraizadas na cultura brasileira. Sua espontaneidade provocou reflexões que extrapolaram o campo do entretenimento.

A reação das autoridades americanas à prisão de Bolsonaro agravou o quadro. Uma conta oficial ligada ao Departamento de Estado dos EUA criticou publicamente a decisão do STF, insinuando que outras figuras do Judiciário poderiam ser alvo de novas sanções. O movimento foi interpretado como ingerência externa, reacendendo debates sobre soberania e autonomia entre os Três Poderes brasileiros.

Com décadas de trajetória respeitável e presença marcante no imaginário popular, Alcione assumiu, mesmo sem pretensão, um papel de porta-voz de um Brasil que encontra na cultura, no humor e na fé formas de se posicionar diante da turbulência institucional. Seu gesto espontâneo ecoou como desabafo coletivo e ganhou status de símbolo político inesperado.

A intersecção entre cultura popular e política institucional não é nova no Brasil, mas raramente é tão visível quanto neste episódio. Alcione, sem discursos inflamados ou palavras de ordem, apenas com um comentário espirituoso ao vivo, tornou-se ícone de um tempo em que memes, espiritualidade e indignação caminham juntos na construção da opinião pública.

Fonte: InstagramG1 e Metropoles.