A tarde de sexta-feira (1º) na zona leste de São Paulo prometia ser marcada por escutas e propostas. A 4ª Conferência Estadual dos Direitos da População LGBT+ reunia delegados e ativistas no CÉU Carrão/Tatuapé, um espaço pensado justamente para acolher vozes historicamente silenciadas. Mas a entrada abrupta da vereadora Janaina Paschoal (PP) no palco transformou o auditório em um campo de tensão.
Pontos Principais:
Convidada apenas como ouvinte, Janaina desrespeitou o protocolo do evento e interrompeu os discursos de abertura com uma fala que soou como afronta a boa parte dos presentes: “O impeachment de Dilma Rousseff não foi golpe”. A declaração ecoou no espaço como uma bomba política fora de hora e de lugar, provocando vaias e protestos generalizados.
A reação não foi apenas sonora. A presença da parlamentar, considerada por muitos como provocativa e inadequada, foi contestada com firmeza pelos organizadores. A segurança precisou intervir, e Janaina foi retirada do palco sob gritos que exigiam respeito à conferência e aos seus participantes. A tentativa de seguir com o evento foi dificultada pelo desconforto instaurado.
A fala de Janaina, ainda que breve, reverberou além da plateia. A cônsul-geral da Bélgica em São Paulo, presente como convidada internacional, deixou o palco em sinal de repúdio à postura da vereadora. A saída simbólica foi interpretada como um gesto diplomático claro de insatisfação com o desrespeito ao ambiente de diálogo que o evento propunha.
O coordenador de Políticas LGBTQIA+ do Sindicato dos Bancários de São Paulo, Diego Carvalho, foi direto ao avaliar o episódio como uma tentativa de desestabilizar politicamente um espaço construído com mobilização social. Segundo ele, a atitude de Janaina não apenas rompeu a liturgia do evento como também colocou em risco a harmonia de um ambiente de escuta plural.
Com 350 delegados reunidos, a conferência tem como meta debater e aprovar propostas que serão levadas à etapa nacional em Brasília, em outubro. Os temas em pauta vão de políticas públicas para juventude, saúde e trabalho até estratégias de combate à violência contra a população LGBTQIAPN+. O momento em que a vereadora decidiu se manifestar destoou completamente da natureza do encontro.
Organizações participantes divulgaram uma nota de repúdio reforçando que o espaço da conferência é resultado de anos de luta por representatividade e políticas inclusivas. Destacaram ainda que atitudes como a de Janaina não serão toleradas em um fórum dedicado ao avanço dos direitos humanos e à proteção da dignidade de grupos vulneráveis.
A vereadora, que já protagonizou outras polêmicas ao longo da carreira, mais uma vez ganhou projeção por se colocar no centro de uma situação conflituosa. Para os organizadores, sua conduta foi planejada para gerar exatamente o tipo de repercussão que se seguiu: manchetes, indignação e, principalmente, o desvio de foco das pautas legítimas discutidas no evento.
O desconforto foi tão significativo que alguns participantes relataram sentir que a fala da vereadora havia violado não apenas regras de convivência, mas também o espírito democrático do encontro. A presença dela, embora legalmente possível como cidadã, foi interpretada como um gesto simbólico de invasão institucional.
Enquanto isso, os trabalhos seguiram com dificuldade, mas sem abrir mão da pauta. As mesas temáticas retomaram seus eixos com debates sobre saúde, violência e políticas públicas, reafirmando o compromisso coletivo com a defesa da vida e da dignidade da população LGBTQIA+. Apesar do episódio, o espírito da conferência resistiu – e seguiu.
Fonte: Spbancarios, Revistaforum e Diariodocentrodomundo.