Influencers, ostentação e o “Tigrinho”: polícia investiga esquema de R$ 4,5 bi com jogos ilegais

Carros de luxo, mansões, viagens internacionais e seguidores por milhões. Enquanto prometiam ganhos fáceis em jogos online, influenciadores acumulavam fortuna em silêncio. A Polícia Civil investiga se parte deles lucrava com as perdas dos próprios seguidores. A Operação Desfortuna revela bastidores de um esquema de R$ 4,5 bilhões, com celebridades digitais no centro de uma rede de publicidade enganosa, lavagem de dinheiro e manipulação emocional.
Publicado em Política dia 8/08/2025 por Alan Corrêa

A Polícia Civil do Rio de Janeiro amanheceu nesta quinta-feira (7) com uma missão que atravessou estados e perfis verificados: desarticular um dos maiores esquemas de jogos de azar digitais já registrados no país. A operação batizada de “Desfortuna” apura a participação direta de influenciadores como Bia Miranda, Mauricio Martins Junior (conhecido como Maumau), Buarque e as gêmeas Paulina e Paola de Ataíde na promoção do “Jogo do Tigrinho” – nome popular da plataforma Fortune Tiger, classificada como caça-níquel e proibida pela legislação brasileira.

Pontos Principais:

  • Polícia Civil do RJ deflagra Operação Desfortuna contra jogos de azar ilegais.
  • Bia Miranda, Maumau e outros influenciadores estão entre os investigados.
  • Esquema pode ter movimentado R$ 4,5 bilhões entre 2022 e 2024.
  • Investigados promoviam o Jogo do Tigrinho e ostentavam padrão de vida elevado.
  • Há indícios de comissões baseadas nas perdas dos seguidores e uso de empresas de fachada.

Com apoio de laboratórios especializados e base em relatórios do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf), os agentes cumpriram 31 mandados de busca e apreensão em endereços localizados no Rio de Janeiro, São Paulo e Minas Gerais. As investigações apontam movimentações superiores a R$ 40 milhões em contas pessoais dos envolvidos entre 2022 e 2024, além de fortes indícios de lavagem de dinheiro, estelionato e publicidade enganosa.

O que chama atenção dos investigadores é o padrão de vida elevado ostentado pelos investigados: veículos de alto valor, imóveis luxuosos e viagens constantes ao exterior. Tudo compartilhado com naturalidade em redes sociais, onde os investigados somam juntos cerca de 35 milhões de seguidores. O público, muitas vezes jovem e economicamente vulnerável, era impactado por conteúdos que prometiam lucros rápidos com o “Tigrinho” — uma roleta digital que exige alinhar três símbolos para vencer.

Diferente de plataformas de apostas esportivas legalizadas no Brasil, jogos como Fortune Tiger, Spaceman, Aviator, JetX e Mines operam como caça-níqueis disfarçados, segundo as autoridades. Eles são proibidos pela Lei de Contravenções Penais e classificados como jogos de azar, nos quais o resultado é baseado unicamente na sorte e não em eventos reais.

Na residência de Maumau, localizada em São Paulo, a polícia apreendeu uma arma de fogo, e o influenciador foi conduzido à delegacia para prestar depoimento. Os investigadores afirmam que ele fazia parte de uma rede organizada, com divisão clara de funções entre operadores financeiros, responsáveis pela publicidade e empresas de fachada.

Há suspeita de que os influenciadores recebiam não apenas cachês para divulgar os jogos, mas comissões baseadas diretamente nas perdas dos usuários que acessavam os links promocionais. Parte dessas comissões teria sido movimentada por meio de contas pessoais, aprofundando o envolvimento dos investigados com a atividade ilegal.

Os promotores de Justiça envolvidos no caso investigam ainda a participação de fintechs que, segundo apontamentos preliminares, seriam utilizadas para facilitar a circulação dos valores ilícitos. A Justiça autorizou a quebra de sigilo fiscal dessas empresas e de todos os influenciadores envolvidos.

O avanço da operação expõe um fenômeno cada vez mais comum: a monetização da influência digital aliada à baixa fiscalização dos conteúdos patrocinados. Na prática, o carisma dos influenciadores servia de isca emocional para atrair jogadores a plataformas viciantes, em um ciclo no qual poucos ganham e muitos perdem.

A Polícia Civil segue com as diligências e não descarta novas fases da operação. O caso lança luz sobre a necessidade de regulamentação mais rígida para conteúdos pagos em redes sociais e o papel ético de figuras públicas ao promover produtos de alto risco. O esquema investigado pode ter movimentado até R$ 4,5 bilhões, o que coloca a Operação Desfortuna entre as mais complexas já realizadas contra crimes digitais no país.

Fonte: G1 e Metropoles.