Caieirenses na Segunda Guerra: os nomes e histórias revelados. Padre Aquiles e os combatentes de Caieiras na Itália durante a guerra.
Pontos Principais:
Oito de maio marca os 80 anos do fim oficial da Segunda Guerra Mundial na Europa, data que ficou conhecida como Dia da Vitória. Enquanto o mundo relembra esse momento histórico, a cidade de Caieiras, na região metropolitana de São Paulo, encontra em sua própria trajetória nomes que fizeram parte da luta contra o nazismo. Entre os poucos registros existentes, o livro “Caieiras: Fatos e Personalidades da Cidade dos Pinheirais”, de Marcílio Dias de Moraes, revela os caieirenses Antônio José Nani, Sílvio Pinheiros e o padre Aquiles Silvestre como protagonistas de uma história muitas vezes esquecida.
Padre Aquiles Silvestre é um dos nomes mais emblemáticos dessa narrativa. Chegou a Caieiras na década de 1930, como capelão da Companhia Melhoramentos, mas seu trabalho pastoral ultrapassava os limites da empresa. Atuou em diversas comunidades, de Vila Crisciúma a Santa Inês, e se tornou uma figura presente no cotidiano da população local. Com a entrada do Brasil na guerra, foi convocado para atuar como capelão militar, sendo incorporado à Força Expedicionária Brasileira que partiu para a Itália em 1944.
Desembarcando na Baía de Nápoles, Aquiles acompanhou o III Batalhão da FEB, oferecendo assistência espiritual aos soldados brasileiros nas frentes de batalha. O impacto do conflito era sentido não apenas nas armas, mas também na alma dos combatentes. O padre levava conforto, esperança e ministrava os sacramentos em momentos extremos, inclusive a Extrema Unção para os que morriam em combate. Muitos desses soldados foram sepultados em Pistóia, na Itália, e só retornaram ao Brasil anos depois.
Além de padre Aquiles, outro nome que consta nos registros oficiais é o de Antônio José Nani, listado como soldado na FEB. A confirmação veio de uma busca no banco de dados militar, alinhando os relatos do livro com a documentação oficial. Esses poucos nomes são evidência de que, mesmo distante dos holofotes, Caieiras teve papel real no maior conflito do século XX.
Após a guerra, padre Aquiles retornou ao Brasil e permaneceu por algum tempo em Caieiras. Posteriormente, foi transferido para o Quartel do Segundo Exército em São Paulo, onde assumiu funções como capelão e foi promovido a major. Com o tempo, passou a atuar como pároco na Freguesia do Ó, onde concluiu sua missão religiosa e faleceu na década de 1960. Seu nome hoje batiza uma das ruas do centro da cidade.
O reconhecimento desses personagens vai além do simples resgate histórico. O artigo 5º da Constituição Federal garante o respeito à honra e à imagem das pessoas, incluindo os mortos, assegurando também o acesso à informação como direito fundamental. Resgatar essas histórias é, portanto, também um ato de justiça e de construção de cidadania, à luz dos princípios constitucionais que regem o país.
É preciso ressaltar que esse resgate não ocorre por políticas públicas, mas pela iniciativa de poucos pesquisadores e veículos locais comprometidos com a memória da cidade. O distanciamento progressivo dos fatos, a mudança demográfica e o abandono institucional colocam em risco essa parte importante do passado. São nomes como os de padre Aquiles e soldado Nani que personificam um tempo em que Caieiras esteve ligada diretamente ao destino do mundo.
Fonte: Arquivo de Caieiras, acervo do jornal e Prefeitura de Caieiras.