Cotidiano

Guerra iminente: Brasileiro relata tensão em Beirute e aguarda definição sobre o retorno ao Brasil

O empresário libanês-brasileiro Bassam Haddad descreve a situação tensa em Beirute, com bombardeios constantes, enquanto avalia se deve ou não retornar ao Brasil. A guerra no Líbano já causou a morte de 1.000 pessoas e o deslocamento de 1 milhão de habitantes. Israel anunciou a invasão terrestre, ampliando o conflito.
Publicado em Cotidiano dia 2/10/2024 por Alan Corrêa

Desde o início dos bombardeios no sul do Líbano e na região sudoeste de Beirute, o empresário libanês-brasileiro Bassam Haddad, de 67 anos, enfrenta uma situação tensa e perigosa. Ele descreveu a rotina de explosões e destruição nas proximidades de sua casa, onde vive com suas duas filhas. O clima de incerteza sobre o futuro gera angústia, enquanto Haddad avalia a possibilidade de retornar ao Brasil, mas ainda não tomou uma decisão.

O empresário, que vive no norte de Beirute, contou que os bombardeios se aproximam de sua residência e que, embora a Força Aérea Brasileira tenha oferecido um avião para retirada de brasileiros, ele ainda pondera se deve deixar o país. A principal razão para sua hesitação envolve a família e seus compromissos no Líbano, como o cuidado com sua mãe e a continuidade de seu trabalho.

“A situação está muito tensa e terrível, principalmente no sul do Líbano e no sul e sudoeste de Beirute, região que foi bombardeada bastante e onde continuam [os bombardeios]. A cada uma, duas ou três horas sempre tem um bombardeio. No nosso bairro, a gente escuta alguns bombardeios e não tem como trabalhar normalmente. Estamos na expectativa se que vai ter, ou não, uma guerra geral. Todo mundo está triste e chateado”, relatou o brasileiro.

Desde 25 de setembro, Israel intensificou os ataques no sul do Líbano e no sudoeste de Beirute. Estima-se que, em apenas oito dias, cerca de 1.000 pessoas tenham perdido a vida e mais de 1 milhão de moradores tenham sido forçados a deixar suas casas, conforme informações de agências das Nações Unidas. No dia 30 de setembro, as Forças Armadas de Israel anunciaram uma invasão terrestre no Líbano, ampliando o conflito na região.

Bassam Haddad, que viveu por 15 anos no Brasil e retornou ao Líbano em 1998, relatou à Agência Brasil que os bombardeios atingem uma distância de aproximadamente 10 a 15 quilômetros de sua casa. Mesmo assim, ele tem saído de casa apenas para realizar atividades essenciais, como comprar alimentos. Além disso, ele observa que muitas famílias estão fugindo de suas casas com poucas posses, tentando sobreviver em meio aos bombardeios e à destruição causada pelos ataques.

“Pensar [em voltar ao Brasil] eu penso, tem minhas filhas que são brasileiras e minha ex-mulher que é gaúcha, mas estamos esperando uns dois ou três dias pra ver o que pode acontecer. É difícil largar tudo e ir embora, tem a empresa, a vida toda, minhas filhas trabalham, minha mãe é velhinha. Tem a família inteira aqui, não é fácil ir embora”, comentou.

Israel justifica os bombardeios e a invasão afirmando que busca desmantelar o poder militar do Hezbollah, grupo que desde 2023 realiza ataques ao norte de Israel em solidariedade aos palestinos e à Faixa de Gaza. O Hezbollah, por sua vez, condiciona o fim dos ataques à desocupação de Gaza por parte de Israel.

“Muita gente saiu de casa sem levar nada, apenas a própria roupa, e agora têm que arrumar moradia e alimentação. Não é fácil, tem famílias inteiras ficando na rua, famílias que tem casas e tiveram que fugir graças aos bombardeios israelenses. Os massacres de Israel bombardeiam civis, crianças e mulheres”, denunciou.

Apesar das justificativas israelenses, Bassam Haddad contesta a narrativa de defesa de Israel e acredita que o real objetivo é expandir suas fronteiras. Ele defende que o Exército Libanês é o responsável pela defesa do país, mas reconhece que o Hezbollah é a única força capaz de enfrentar militarmente Israel, devido à falta de recursos do exército regular libanês.

O empresário avalia que a situação no Líbano é agravada pela falta de apoio internacional e teme que o conflito se transforme em uma guerra generalizada. Ele destaca que a decisão de retornar ao Brasil não é simples, pois envolve deixar para trás sua vida construída no Oriente Médio, o trabalho e os laços familiares que mantém na região.

“O exército libanês não tem a força e não tem armas. Então, o Hezbollah foi obrigado a trazer e estocar armas, além de aceitar o apoio do Irã, para se defender de Israel. Os israelenses dizem que querem apenas eliminar o Hezbollah. Mas a gente não confia neles. Nós já tivemos experiência com eles. A gente sabe qual é o plano futuro deles. Eles querem que o povo que mora na região siga as ordens deles”, argumentou.

Fonte: AgênciaBrasil.