São Paulo

Filha de médico expõe falsidade em documento usado por Marçal contra Boulos; Justiça Eleitoral manda Pablo Marçal remover vídeo

A Justiça Eleitoral determinou que o candidato Pablo Marçal retire das redes sociais vídeos onde ele divulgou um laudo supostamente falso contra Guilherme Boulos. O documento teria sido assinado por um médico que já faleceu, gerando suspeitas de falsificação. O caso agitou as redes às vésperas da eleição.
Publicado em São Paulo dia 5/10/2024 por Alan Corrêa

Na noite de sexta-feira (4), Pablo Marçal (PRTB) divulgou em suas redes sociais um suposto laudo médico indicando que Guilherme Boulos (PSOL) teria consumido cocaína. O documento, no entanto, foi imediatamente questionado, pois a assinatura do laudo seria de José Roberto de Souza, um médico que faleceu em 2022. A filha do médico, Aline Souza, afirma que a assinatura usada no documento é falsa e que seu pai nunca trabalhou na capital paulista, nem na clínica “Mais Consultas”, que aparece no documento.

O laudo foi publicado inicialmente no Instagram e TikTok, e gerou grande repercussão. A Justiça Eleitoral determinou a remoção imediata do conteúdo, reconhecendo indícios de falsificação e proximidade entre Marçal e o dono da clínica, Luiz Teixeira da Silva Junior, que já foi condenado por falsificação de documentos.

Aline Souza, filha do médico que teria assinado o laudo, deu uma entrevista à TV Globo no sábado (5), afirmando que seu pai jamais trabalhou em São Paulo e que, na época mencionada no documento, ele estava muito debilitado e já não atendia mais pacientes. Além disso, ela mostrou uma tatuagem com a assinatura verdadeira de seu pai, que é diferente da que aparece no documento divulgado por Marçal.

Além das inconsistências no documento, como erros gramaticais e um número incorreto de RG de Boulos, o caso gerou reação imediata de Boulos, que anunciou que irá à Justiça para pedir a prisão de Pablo Marçal e Luiz Teixeira da Silva Junior, dono da clínica “Mais Consultas”. Boulos classificou o episódio como uma “fake news” grave às vésperas da eleição.

Marçal, que já teve contas suspensas temporariamente em redes sociais por monetizar conteúdo, viu o post ser removido pelas plataformas ainda na noite de sexta-feira. A Justiça Eleitoral considerou “plausível” a alegação de falsidade e determinou a exclusão imediata do vídeo. No entanto, na manhã deste sábado (5), a live onde o documento é apresentado ainda estava disponível no YouTube.

O impacto do caso não se limitou aos envolvidos diretamente. Outros candidatos à Prefeitura de São Paulo também se manifestaram sobre o assunto. Ricardo Nunes (MDB), atual prefeito e candidato à reeleição, condenou a atitude de Marçal, afirmando que a Justiça precisa ser ágil para resolver a questão. José Aníbal, candidato a vice na chapa de Datena, também criticou duramente Marçal, chamando-o de “delinquente compulsivo” e alertando para o risco que ele representa à democracia.

Tabata Amaral (PSB), outra candidata na disputa, também se pronunciou, reafirmando suas críticas a Marçal e alertando sobre seu histórico de ataques e mentiras. Ela disse que a falsificação do laudo é grave e deve ser punida com prisão, destacando que o foco de Marçal é desviar a atenção das eleições para si.

A clínica “Mais Consultas”, envolvida no caso, pertence a Luiz Teixeira da Silva Junior, que já foi condenado por falsificação de documentos em outra ocasião. Ele trancou suas redes sociais após a repercussão do caso. A Justiça Federal, em uma condenação anterior, determinou que ele prestasse serviços comunitários como parte de sua pena.

Esse episódio levantou novamente o debate sobre o uso de fake news em campanhas eleitorais no Brasil. O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) tem reforçado o combate à desinformação, especialmente em um cenário de grande polarização política, como o de São Paulo. A criação e disseminação de notícias falsas nas redes sociais têm sido um dos principais desafios para garantir a lisura do processo eleitoral.

Boulos, que lidera as pesquisas para a Prefeitura de São Paulo, encara o episódio como um ataque direto à sua candidatura. Ele reforçou que não permitirá que ataques baseados em mentiras atrapalhem o processo eleitoral e promete levar o caso às últimas instâncias da Justiça, tanto na esfera eleitoral quanto na criminal.

O caso continua em investigação pela Polícia Federal, que deve apurar a origem do documento e a participação dos envolvidos na sua falsificação. Marçal, que já foi alvo de outras ações judiciais relacionadas a suas publicações, não comentou o caso até o momento. A expectativa é que novos desdobramentos ocorram nos próximos dias, com as eleições se aproximando.

O uso de fake news como estratégia política não é novidade, mas este caso em particular pode ter consequências graves para Pablo Marçal e seus aliados, caso a falsificação seja comprovada. O impacto dessa situação nas urnas e na decisão dos eleitores ainda é incerto, mas certamente é um tema que continuará em debate até o final da eleição.

Fonte: G1.