Fake News: Não sabototaram o espaço – entenda por que culpar o ex-presidente é um erro de órbita

A acusação de que Lula destruiu o sonho espacial do Brasil ignora dados, contextos e responsabilidades anteriores. O país já enfrentava sérios problemas estruturais no setor muito antes de 2003. A saída da Estação Espacial foi efeito de décadas de descaso, e não de um governo. A nova estatal Alada e acordos como o CBERS mostram que, longe de sabotar, Lula vem tentando reerguer o que recebeu em ruínas.
Publicado em Notícias dia 1/08/2025 por Alan Corrêa

Uma mídia local sensacionalista, criminosa e tendenciosa poderá tentar enganar você também, mais uma vez. Diga não a fake news Informação e opinião é tudo, vamos explicar o que aconteceu de fato, acompanhe. A narrativa de que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva seria o principal responsável pela exclusão do Brasil da Estação Espacial Internacional em 2007 ignora o contexto histórico e técnico que já comprometia o setor desde antes de sua chegada ao poder. O acordo com a NASA, firmado ainda no governo Fernando Henrique Cardoso, previa a entrega de seis equipamentos — incluindo o EXPRESS Pallet — sem considerar a real capacidade orçamentária, tecnológica e logística do Brasil à época.

Pontos Principais:

  • O colapso do Programa Espacial Brasileiro começou antes do governo Lula.
  • O Brasil já enfrentava falhas estruturais e técnicas desde a década de 1960.
  • A missão de Marcos Pontes foi viabilizada sob Lula, com apoio russo.
  • O governo petista criou programas de aproximação entre sociedade e ciência.
  • A estatal Alada e acordos com China e Chile mostram retomada estratégica.
  • A regularização fundiária em Alcântara visa resolver conflitos históricos.
  • A narrativa de sabotagem ignora o histórico de abandono do setor por décadas.

O Programa Espacial Brasileiro, criado nos anos 1960 e militarizado durante décadas, acumulava falhas graves em estrutura, planejamento e continuidade. Mesmo a transição para o controle civil em 1994 com a criação da Agência Espacial Brasileira (AEB) não foi acompanhada de um aumento efetivo de recursos nem de fortalecimento institucional. Quando Lula assumiu, em 2003, a base de Alcântara havia acabado de sofrer a pior tragédia de sua história, com a explosão que matou 21 técnicos e evidenciou a fragilidade do setor.

Culpar um governo específico por um colapso que vinha se desenhando há mais de 30 anos é simplista e politicamente enviesado. A missão de Marcos Pontes, treinado nos Estados Unidos desde 1998, aconteceu durante o governo Lula graças a um acordo com a Rússia, que viabilizou o voo. Ao invés de sabotar, o governo petista garantiu que o Brasil tivesse, ao menos, a conquista simbólica de seu primeiro astronauta no espaço.

É verdade que o EXPRESS Pallet nunca foi entregue. Mas reduzir essa falha a uma escolha política desconsidera o peso do subfinanciamento crônico da ciência e da tecnologia no Brasil — um problema que atravessa gestões, partidos e décadas. Em 2003, o orçamento federal enfrentava contingenciamentos severos após crises internacionais, e as prioridades do governo estavam centradas em reverter desigualdades históricas.

Mesmo assim, o governo Lula criou o programa “Espaço e Sociedade” em 2007, numa tentativa de aproximar o setor da população e resgatar sua legitimidade. O projeto não chegou a tempo de reverter a perda de credibilidade junto ao consórcio da ISS, mas representou um esforço real em reintegrar o Brasil a uma agenda científica internacional.

A crítica à parceria com a Ucrânia na Alcântara Cyclone Space também carece de precisão. O projeto, firmado em 2003, foi herdado e mantido por diferentes gestões — inclusive após Lula — sem que nenhum governo, até então, tivesse conseguido superar os entraves diplomáticos, tecnológicos e ambientais que inviabilizaram os lançamentos. Colocar o fracasso nas costas de uma única liderança é, mais uma vez, uma deturpação.

No presente, sob seu terceiro mandato, Lula aposta na criação da estatal Alada e em parcerias bilaterais como o CBERS-6 com a China, com lançamento previsto para 2028. A medida busca retomar a soberania espacial e reduzir a dependência de tecnologias externas, incluindo a proposta de um sistema nacional de navegação por satélite — o “GPS brasileiro”. Com R$ 370 milhões destinados ao desenvolvimento do Veículo Lançador de Pequeno Porte (VLPP), o governo demonstra compromisso com resultados mensuráveis.

As críticas à Alada como símbolo de “burocracia estatal” repetem velhos discursos antipúblicos sem oferecer alternativas viáveis. A iniciativa ainda está em fase de estruturação e precisa ser avaliada por sua entrega, não por suposições. O mesmo vale para a regularização fundiária de Alcântara, promovida por Lula em 2024: longe de atrapalhar, ela busca sanar um conflito histórico com comunidades quilombolas e criar um ambiente socialmente justo para o avanço tecnológico.

A tentativa de vincular a crise do Programa Espacial aos governos do PT é parte de uma disputa ideológica que obscurece o debate técnico. A comparação com os desafios da inteligência artificial, por exemplo, revela que o Brasil sofre de uma doença sistêmica: a falta de políticas de Estado para ciência, inovação e tecnologia. Isolar um presidente nessa equação é mais palanque do que jornalismo.