Editorial: Uma Questão de Direitos Humanos

Por Bia Ludymila (MTB 0081969/SP). A Proteção das Mulheres e o Reconhecimento dos Homens, Ambos, Como Vítimas.

Ao longo das décadas, a questão da proteção das mulheres contra a violência tem se consolidado, justamente, como uma prioridade global. Inúmeros relatos, dados estatísticos e histórias trágicas deram urgência ao desenvolvimento de leis e campanhas específicas para coibir e combater essa violência que afeta, sobretudo, o sexo feminino. Mas enquanto celebramos cada avanço na proteção das mulheres, é igualmente crucial reconhecer que os homens também podem ser vítimas – e que seu sofrimento merece igual reconhecimento e resposta.

A sociedade moldou, ao longo dos séculos, estereótipos de gênero que definem e limitam as formas como homens e mulheres devem se comportar. A mulher é frequentemente retratada como o “sexo frágil”, vulnerável e necessitada de proteção, enquanto o homem é visto como forte, resiliente e incapaz de mostrar vulnerabilidade. Estes estereótipos, por mais antiquados que pareçam, continuam a influenciar nossa percepção e resposta à violência de gênero.

Reconhecer que os homens podem ser vítimas de abuso, seja físico, emocional, sexual ou psicológico, não diminui a gravidade da violência contra as mulheres. Pelo contrário, apenas amplia nossa compreensão sobre as múltiplas facetas da violência de gênero e destaca a necessidade de uma resposta inclusiva.

Não podemos deixar que preconceitos culturais nos ceguem para o fato de que homens, assim como mulheres, podem ser vítimas de violência doméstica. A escassez de relatos masculinos frequentemente não reflete uma ausência de abuso, mas sim um medo compreensível de ridicularização ou descrença.

A resposta adequada a essa complexa questão exige um repensar profundo da sociedade sobre os papéis de gênero. Precisamos cultivar um ambiente onde vítimas, independentemente de seu gênero, sintam-se seguras para denunciar abusos e buscar ajuda. Serviços de apoio, campanhas de conscientização e leis devem refletir essa realidade multifacetada da violência.

Portanto, enquanto continuamos a lutar pela proteção das mulheres, é imperativo expandir essa luta para incluir todos os que sofrem em silêncio, temendo preconceitos e estigmas. Somente quando reconhecermos a violência de gênero em toda a sua amplitude poderemos nos aproximar de uma sociedade verdadeiramente igualitária e justa.