A nomeação de Gabriel Galípolo como diretor de Política Monetária do Banco Central pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, promete impactar significativamente o futuro da taxa de juros no Brasil.
Essa indicação marca o primeiro movimento de Haddad para mudar a direção do Banco Central, cuja política atual de manutenção da taxa de juros em 13,75% vai de encontro aos estímulos necessários para impulsionar o crescimento econômico.
A perspectiva é de que Galípolo se torne o sucessor de Roberto Campos Neto, atual presidente do Banco Central, em 2025. Essa mudança, juntamente com a esperada troca de outros diretores, aponta para um Banco Central mais alinhado com a política econômica do governo Lula, que busca a redução da taxa de juros como forma de estimular investimentos e impulsionar o crescimento da economia brasileira.
Em outra frente, Josué Gomes, presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), expressou sua insatisfação com a atual taxa de juros durante uma reunião com o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco. Gomes destacou a inconcebibilidade de um país tão rico como o Brasil praticar uma taxa de juros tão elevada, enfatizando a necessidade de uma taxa real de 8,5% descontada a inflação.
A indústria é um setor fortemente prejudicado pelos altos juros no Brasil, e seu peso no PIB diminuiu de 37% em 1985 para 23% atualmente, mesmo com os avanços tecnológicos ocorridos no setor ao longo do tempo.
Essas duas informações ressaltam que a questão central para o crescimento da economia brasileira continua sendo a taxa de juros, e isso pressiona a estratégia atual de Campos Neto, que pretende reduzir os juros apenas em um futuro próximo, mantendo suas convicções ortodoxas sobre o papel do Banco Central, que ganhou autonomia em relação à Presidência da República no governo Jair Bolsonaro.
A ata da reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) realizada em maio passado explica as razões para a manutenção da taxa de juros em 13,75%. O documento destaca a necessidade de serenidade e paciência na condução da política monetária para garantir a convergência da inflação para as metas estabelecidas. Além disso, faz referência à sinalização majoritária das autoridades monetárias ao redor do mundo, que indicam um período prolongado de juros elevados como forma de combater pressões inflacionárias, sugerindo cautela nas políticas econômicas dos países emergentes.
Enquanto o mercado financeiro e a grande mídia argumentam que a atuação do Banco Central deve ser puramente técnica, alheia às tendências políticas dos governos, é importante lembrar que essa postura pode acelerar ou desacelerar o crescimento econômico, afetando diretamente a distribuição de renda e o padrão de vida da população.
Diante desse cenário, a indicação de Gabriel Galípolo para a Diretoria de Política Monetária do Banco Central representa mais um capítulo crucial na disputa entre o Ministério da Fazenda e o Palácio do Planalto versus o Banco Central. Com a possibilidade de uma mudança na diretoria, surge a expectativa de uma nova abordagem para a política econômica do país.
*Texto produzido com base no artigo de Luiz Roberto Serrano, jornalista e coordenador editorial da Superintendência de Comunicação Social (SCS) da USP.