Crise Brasil-EUA se agrava com tarifas e silêncio internacional

Enquanto o mundo observa em silêncio, Trump impõe tarifas ao Brasil em resposta à prisão de Bolsonaro e cria a pior crise diplomática da história entre os dois países. A pressão ameaça a soberania nacional e levanta temores de que a América Latina volte a ser tratada como "quintal" dos EUA. Lula resiste, mas a tensão cresce à medida que o julgamento de Bolsonaro se aproxima.
Publicado em Política dia 5/08/2025 por Alan Corrêa

A relação entre Brasil e Estados Unidos mergulhou em sua pior crise diplomática em mais de dois séculos, após o presidente norte-americano Donald Trump impor sanções econômicas ao país em retaliação à decisão do Supremo Tribunal Federal de decretar a prisão domiciliar de Jair Bolsonaro. A medida, classificada como sem precedentes, gerou indignação entre especialistas em relações internacionais e silêncio quase absoluto da comunidade internacional.

Pontos Principais:

  • Trump impôs tarifas ao Brasil em resposta à prisão domiciliar de Jair Bolsonaro.
  • Especialistas denunciam intervenção direta nas instituições democráticas brasileiras.
  • Silêncio da comunidade internacional agrava a crise e expõe a fragilidade diplomática global.
  • Christopher Sabatini alerta para o risco de o Brasil voltar a ser tratado como “quintal” dos EUA.
  • Crise pode piorar com o julgamento de Bolsonaro e novas sanções americanas ao governo Lula.

No centro da controvérsia está o uso de tarifas comerciais como instrumento de pressão contra uma decisão judicial soberana. O gesto de Trump, visto como uma intervenção direta nas instituições democráticas brasileiras, ocorreu sem qualquer manifestação da União Europeia, da ONU ou da OEA — organismos tradicionalmente defensores da soberania nacional. O pesquisador Christopher Sabatini, da Chatham House, alerta que o episódio reforça uma lógica ultrapassada e perigosa: a de que a América Latina ainda é o “quintal” dos Estados Unidos.

Segundo Sabatini, o silêncio internacional diante de uma violação explícita da independência dos poderes brasileiros não apenas legitima a ofensiva americana, mas também sinaliza uma erosão preocupante das normas da ordem liberal internacional. Ele aponta que esse vácuo diplomático se deve ao receio generalizado dos países em confrontar Trump, que transformou as relações internacionais em um ambiente de “cada um por si”.

A decisão do STF de prender Bolsonaro por descumprimento de medidas cautelares ocorreu em meio a um cenário político já inflamado. Milhares foram às ruas em apoio ao ex-presidente, e Trump, em resposta, intensificou seu discurso contra o Judiciário brasileiro. Sabatini avalia que, apesar da mobilização popular, o impacto econômico das sanções poderá minar o apoio ao bolsonarismo, especialmente entre empresários e investidores.

Dentro desse contexto, o pesquisador vislumbra um possível enfraquecimento da figura de Jair Bolsonaro e o surgimento de uma nova liderança dentro do campo conservador brasileiro, como o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas. Ele ressalta, no entanto, que o bolsonarismo segue como um movimento resiliente, mesmo sem seu principal líder em plena atividade política.

O conflito é agravado pela ausência de canais diplomáticos efetivos entre os dois governos. Sabatini acredita que qualquer tentativa de negociação seria politicamente danosa tanto para Lula quanto para Trump. Uma saída possível estaria nas mãos do Congresso norte-americano, com a revisão dos poderes unilaterais do presidente americano na imposição de sanções. Senadores democratas já iniciaram movimentos nesse sentido.

A percepção de que os EUA estão desrespeitando a soberania brasileira cresce, especialmente porque a intervenção ocorre num momento em que o Brasil assume papel importante em fóruns multilaterais. Para Sabatini, o governo Trump parece ignorar os impactos diplomáticos dessa ruptura, priorizando um alinhamento ideológico com Jair Bolsonaro em detrimento da estabilidade institucional do hemisfério.

Apesar de críticas pontuais à atuação do STF e do ministro Alexandre de Moraes, inclusive de entidades como a Transparência Internacional, Sabatini frisa que essas são questões internas da democracia brasileira e que não justificam retaliações econômicas de um governo estrangeiro. Ele compara o caso com momentos da história americana, como as decisões da Suprema Corte durante a luta pelos direitos civis, que jamais motivaram sanções externas.

A crise atual revela ainda um cenário geopolítico em que líderes populistas exploram fissuras institucionais para fortalecer seus aliados. A retórica de Trump, ao questionar a legitimidade do processo judicial contra Bolsonaro, busca enfraquecer o equilíbrio democrático do Brasil, segundo o analista.

À medida que o julgamento de Bolsonaro se aproxima, cresce o temor de novas intervenções dos EUA, incluindo sanções pessoais a membros do governo Lula. Para Sabatini, esse cenário compromete a cooperação bilateral em áreas estratégicas e isola o Brasil num momento de alta tensão política e econômica. A escalada, ao que tudo indica, está longe do fim.

Com informações de g1.