Convergência entre Psicologia e Arteterapia

Manicômios, apesar de obsoletos, continuam sendo uma necessidade temporária enquanto alternativas como Residências Terapêuticas não estão plenamente estabelecidas. No dia a dia do hospital psiquiátrico, profissionais comprometidos lutam para superar as barreiras impostas pela falta de liberdade e individualidade, preparando os pacientes para uma vida mais autônoma e digna.
Publicado em Saúde e Bem-Estar dia 17/05/2024 por Alan Corrêa

Manicômio não é tratamento para ninguém. Por Paula Karkoski – Psicóloga Clínica e Arterapeuta.

A institucionalização traz em si mesma um processo de adoecimento tão grande quanto aquele que pretende tratar. É uma forma obsoleta e absolutamente incorrigível em sua essência: a exclusão. Mas eles ainda existem e, infelizmente, são necessários enquanto outras formas de tratamento, como as Residências Terapêuticas, precisam se estruturar.

Penso que esse longo período de espera precisa ser ao máximo produtivo e preparatório para esta nova etapa. Hoje trabalho dentro de um hospital psiquiátrico e volto todos os dias para casa pensando sobre minha atuação neste lugar. O tão conhecido e proposto Projeto Terapêutico Singular precisa servir de fato como norteador nesta nova etapa de vida.

Essas pessoas, há tanto tempo privadas não só de liberdade, mas essencialmente de individualidade, encontram barreiras nas simples atividades do dia a dia como realizar uma compra, escolher a própria roupa, saber de que atividade de lazer gosta e sente prazer em executar, ou até mesmo a hora de tomar banho, dormir e acordar.

Então, existe muito, mas muito trabalho a ser feito. Não há mais tempo a perder, aliás, tempo é o que eles menos têm! Porque já tiveram uma vida roubada. Eu tenho encontrado gente apressada como eu, profissionais desenvolvendo um lindo trabalho com alegria e coragem, com envolvimento e amor, com a convicção de estarem fazendo o que deve ser feito.

Colegas que estão buscando novas formas de pagar esta dívida que o manicômio tem, trazendo um novo olhar e um jeito diferente de tratar nossos internos. Torcemos muito para que eles, nossos ‘pacientes’, despeçam-se logo de nós. Mas enquanto isso não acontece, inventamos uma rotina em que possam fazer café, escolher a cor do esmalte, andar de bicicleta, ir ao mercado! É pouco… mas é o possível neste momento.

E quanto a mim… vou entre linhas, tintas, papel colorido e jogos, ouvindo histórias, estabelecendo vínculos, compreendendo e buscando fazer entender esse mundo cheio de subjetividade e mistério que é a Saúde Mental. Sinto que estou exatamente onde deveria e gostaria de estar. É um ciclo que caminha para seu fim. Sou grata.