Pela primeira vez, o Brasil inicia a produção 100% nacional de canetas injetáveis com liraglutida, substância usada no tratamento da obesidade e do diabetes tipo 2. A EMS, uma das maiores farmacêuticas do país, começa nesta segunda-feira (4) a distribuição dos medicamentos Olire e Lirux em redes de farmácias nas regiões Sul e Sudeste. O movimento ocorre após o vencimento da patente da liraglutida, em 2024, que antes era exclusividade de marcas importadas como Saxenda e Victoza.
Pontos Principais:
As canetas chegam às prateleiras com valores entre R$ 307,26 e R$ 760,61, com possibilidade de desconto de 10% pelo programa Vida + Leve. Os preços, ainda que próximos aos dos concorrentes internacionais com descontos promocionais, marcam uma tentativa de tornar o tratamento mais acessível à população. A iniciativa se apoia em um investimento de mais de R$ 1 bilhão feito pela EMS, que incluiu a construção da primeira fábrica nacional de peptídeos, localizada em Hortolândia, no interior de São Paulo.
Com tecnologia própria e capacidade de produzir até 40 milhões de unidades por ano, a fábrica brasileira se posiciona como uma das principais apostas do setor farmacêutico nacional. Para este ano, a EMS prevê disponibilizar 100 mil canetas da Olire e 50 mil da Lirux. A meta é atingir 250 mil unidades até dezembro de 2025 e dobrar esse número até agosto de 2026.
A Olire é indicada para tratamento da obesidade, com dosagem diária de 3 mg, enquanto a Lirux é voltada ao controle glicêmico em pacientes com diabetes tipo 2, com dose diária de 1,8 mg. Ambas exigem aplicação diária, o que as diferencia de medicamentos à base de semaglutida — como Ozempic e Wegovy — que oferecem aplicação semanal e maior eficácia na perda de peso, estimada entre 15% e 17%.
Os medicamentos pertencem à classe dos análogos do GLP-1, que atuam imitando um hormônio intestinal responsável por retardar o esvaziamento gástrico, estimular a produção de insulina e promover a sensação de saciedade. A tecnologia, considerada de ponta, tem revolucionado o tratamento da obesidade no mundo, mas até agora, no Brasil, estava restrita a públicos com maior poder aquisitivo.
A EMS escolheu iniciar as vendas nas redes Raia, Drogasil, Drogaria São Paulo e Pacheco, com cobertura em lojas físicas e canais digitais. Segundo a empresa, os centros de distribuição já foram abastecidos, e a expectativa é de que os produtos estejam disponíveis nacionalmente nas próximas semanas. A medida visa garantir capilaridade e continuidade no fornecimento, mesmo diante da alta demanda.
Especialistas apontam que a fabricação nacional é um passo importante na redução da dependência de insumos e medicamentos importados, além de representar ganho estratégico para o SUS em futuras negociações. A fabricação em solo brasileiro pode favorecer políticas públicas voltadas à prevenção e controle de doenças crônicas não transmissíveis, como diabetes e obesidade.
Apesar do esforço da EMS para reduzir custos, o mercado ainda será desafiador. Marcas importadas, mesmo com preços elevados, já conquistaram espaço e clientes fiéis. Os descontos de até 30% aplicados por algumas redes populares tornam o ambiente competitivo, especialmente quando se trata de medicamentos de uso contínuo.
A empresa já anuncia para 2026 o lançamento de uma caneta nacional à base de semaglutida, medicamento que atualmente lidera as vendas globais no segmento de perda de peso. Com isso, a EMS pretende consolidar sua presença em um mercado que, até recentemente, parecia restrito aos grandes conglomerados internacionais da indústria farmacêutica.