Incêndio Consome Vegetação no Pico do Jaraguá, o Ponto Mais Alto de São Paulo.
Um incêndio significativo atingiu a vegetação do Pico do Jaraguá, na Zona Norte de São Paulo, na noite do último sábado (27). As chamas foram controladas na virada do dia, conforme informações do Corpo de Bombeiros, que não reportou vítimas.
De acordo com a corporação, o alerta foi dado por volta das 21h30, e duas viaturas foram rapidamente deslocadas para o local para combater o fogo. Os bombeiros trabalharam intensamente na área, que é uma das últimas reservas de Mata Atlântica da cidade, encerrando suas operações à meia-noite.
Moradores próximos ao local compartilharam nas redes sociais imagens alarmantes que mostram as labaredas consumindo a vegetação do parque estadual. Ainda não foram divulgadas informações sobre a causa do incêndio, mas investigações estão em andamento.
O Pico do Jaraguá, que se eleva a 1.135 metros acima do nível do mar, está sujeito a uma onda de calor que afeta a região, com temperaturas previstas para estar 5ºC acima da média, conforme alerta emitido pelo Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet). Este cenário é propiciado por uma área de alta pressão que causa um “bloqueio atmosférico”, impedindo a chegada de frentes frias e mantendo o clima seco e quente.
A Secretaria de Meio Ambiente, Infraestrutura e Logística (Semil) comunicou que o fogo começou na Trilha do Pai Zé e se espalhou rapidamente devido às condições climáticas adversas. As causas ainda estão sendo apuradas e a extensão do dano será avaliada com o auxílio de drones. Apesar do incidente, o parque permaneceu aberto ao público no domingo (28).
O combate às chamas contou com a ajuda de brigadistas indígenas, que trabalharam junto aos bombeiros para controlar e extinguir o fogo. A comunidade espera agora por uma avaliação completa dos impactos e medidas efetivas para a recuperação desta área vital de conservação ambiental.
A Luta dos Guarani do Pico do Jaraguá Contra a Urbanização e o Desmatamento
Situado na metrópole de São Paulo, o Pico do Jaraguá não é apenas um marco geográfico; é o lar da comunidade indígena Guarani, que trava uma batalha incessante pela preservação de sua cultura, tradições e território. Esta comunidade, conhecida como Tekoas – palavra Guarani para “modo de vida” – é uma das últimas remanescentes em uma grande cidade brasileira.
Os Guarani do Jaraguá ocupam uma área reconhecida como reserva indígena desde 1987, mas a luta pela terra continua. Atualmente, cerca de 700 indivíduos residem em cinco aldeias distintas, onde mantêm viva sua herança cultural por meio de rituais religiosos e a transmissão de saberes ancestrais às novas gerações.
Além de preservar suas tradições internamente, os Guarani buscam compartilhar seu legado com a sociedade externa, organizando eventos culturais e educativos abertos ao público. Contudo, enfrentam desafios significativos. A área designada para eles é insuficiente para sustentar sua população e práticas tradicionais, e a crescente urbanização ao redor impõe graves problemas ambientais, como poluição do ar e da água, prejudicando sua saúde e bem-estar.
Um dos episódios mais críticos ocorreu quando a Construtora Tenda S.A. ameaçou desmatar uma área adjacente para a construção de um condomínio de 396 apartamentos. Em resposta, a comunidade ocupou o terreno em questão para barrar o avanço do projeto. A construtora chegou a iniciar a derrubada de árvores, mas teve sua licença suspensa pela prefeitura após protestos dos indígenas.
O embate dos Guarani do Pico do Jaraguá é representativo das dificuldades enfrentadas por comunidades indígenas em todo o Brasil. Eles persistem na defesa de seus direitos, apesar das adversidades, e resistem à pressão para abandonar suas tradições e estilo de vida.
A história dessa comunidade é um testemunho de resistência e resiliência, ressaltando a necessidade urgente de proteger e respeitar os direitos e culturas indígenas. Para os Guarani do Jaraguá, a preservação de sua região vai além da sobrevivência física; é um dever espiritual.
Os Guarani acreditam na sacralidade das árvores, animais e abelhas nativas, vendo-os como essenciais para a existência humana. Assim, sua luta para proteger o Pico do Jaraguá é uma defesa da vida, cultura e dignidade, refletindo uma conexão profunda entre o bem-estar ambiental e o espiritual.
*Com informações de g1.