Brasil entre o diesel russo e as sanções de Trump: abastecimento pode travar em dias

No coração de uma crise internacional, o Brasil corre risco de colapso no abastecimento de diesel ao se ver pressionado entre os interesses comerciais da Rússia e as sanções impostas pelos Estados Unidos. Com 61% do combustível vindo de Moscou, a substituição imediata é considerada inviável pela Abicom, que alerta para impactos severos na logística nacional, na economia e na segurança energética do país.
Publicado em Economia dia 6/08/2025 por Alan Corrêa

A ameaça de escassez de diesel no Brasil deixou de ser apenas uma possibilidade teórica e passou a ocupar espaço nos gabinetes do alto escalão de Brasília. Com 61% do diesel consumido no país vindo da Rússia no primeiro semestre de 2025, a mais recente investida diplomática dos Estados Unidos para isolar o governo de Vladimir Putin impõe ao Brasil um dilema complexo e urgente: manter as importações russas ou ceder às sanções econômicas impostas por Washington.

Pontos Principais:

  • Brasil importa 61% de seu diesel da Rússia e enfrenta risco de desabastecimento.
  • Abicom alerta que não há substituto viável para o diesel russo no curto prazo.
  • EUA ameaçam países com tarifas de até 100% por manterem comércio com Moscou.
  • Impacto potencial inclui paralisação de transporte, aumento de custos e inflação.
  • Governo brasileiro ainda não se posicionou oficialmente sobre o impasse.

O alerta foi emitido pela Abicom, Associação Brasileira dos Importadores de Combustíveis, que deixou claro que não há fornecedores com a mesma capacidade logística e preço para substituir o diesel russo. Sérgio Araújo, presidente da entidade, afirmou que qualquer tentativa de substituição implicaria custos elevados, entraves operacionais e um risco real de desabastecimento imediato, com consequências diretas sobre o transporte rodoviário e toda a cadeia logística nacional.

Atualmente, os Estados Unidos aparecem como segundo maior fornecedor de diesel para o Brasil, mas sua fatia no mercado é de apenas 24%, número ainda distante do necessário para suprir a lacuna deixada por Moscou. Outros exportadores, como Arábia Saudita (6%) e Omã (3%), não possuem estrutura para ampliar sua produção e exportação em escala suficiente. Segundo a Abicom, nem mesmo uma articulação emergencial com o Oriente Médio ou refinarias do Golfo do México conseguiria resolver o problema no curto prazo.

O cenário se agrava com o tom adotado por Donald Trump. O presidente norte-americano já aplicou tarifa de 25% sobre produtos da Índia, país que manteve negócios com a Rússia, e ameaça elevar essa taxação para até 100% contra outros países que desafiem sua estratégia geopolítica. A política externa de Trump visa sufocar economicamente o Kremlin, e o Brasil, ao continuar comprando diesel russo, pode entrar no radar de retaliações semelhantes.

Por enquanto, o governo federal brasileiro optou pelo silêncio. O Planalto e o Itamaraty não emitiram nenhuma declaração oficial sobre o posicionamento que pretendem adotar. Analistas políticos avaliam essa postura como hesitação diante de uma encruzilhada diplomática: de um lado, o risco de romper com os EUA e perder acordos estratégicos em diversas frentes; de outro, o perigo de enfrentar um apagão logístico que afetaria diretamente a população e a economia.

A dependência do diesel é estrutural. Caminhões, ônibus, máquinas agrícolas e geradores industriais em todo o país dependem desse combustível para operar. Uma ruptura no fornecimento representaria atrasos em entregas, aumento nos preços de frete, desabastecimento em supermercados, paralisação de obras e até falhas no sistema de transporte público. O impacto se espalharia como uma onda por todos os setores da economia.

A Abicom propõe que o Brasil busque alternativas viáveis antes de tomar qualquer decisão precipitada. Entre as possibilidades ventiladas, estão acordos com Kuwait, Emirados Árabes e Qatar, países com tradição em exportação de petróleo, mas que exigiriam investimentos logísticos e diplomáticos intensos. Além disso, os preços seriam consideravelmente mais altos do que os praticados pela Rússia, o que aumentaria a pressão inflacionária.

Sérgio Araújo insiste que, mesmo com um plano emergencial bem executado, não há como evitar consequências imediatas. O Brasil não possui infraestrutura interna capaz de compensar uma interrupção abrupta nas importações, tampouco margem de manobra para arcar com tarifas americanas sem sofrer impactos colaterais severos. O risco, segundo ele, é que o país entre em um colapso silencioso, com a crise aparecendo primeiro nos postos de combustíveis e depois nas prateleiras dos supermercados.

Enquanto isso, a questão permanece no limbo diplomático. A cada dia que passa, cresce a pressão sobre o Ministério de Minas e Energia e sobre o Itamaraty para encontrar uma saída estratégica que não sacrifique a economia nem comprometa alianças geopolíticas. A tensão se arrasta sem desfecho, enquanto os motores da logística nacional continuam funcionando com diesel que pode, em breve, deixar de chegar.

Com informações de CNN.